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Friday, June 23, 2006

Metodologia I

I - O Papel da Ciência

1 - Ciência e Senso Comum
Ana Mercês Bahia Bock
Senso Comum: o conhecimento da realidade.

As pessoas normalmente têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado através de dados científicos, o que lhes permite resolver, explicar ou compreender seus problemas cotidianos.

A vida do cotidiano pode ser entendida como a “Vida por Excelência”. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos e todos os acontecimentos assim o denunciam.

É no cotidiano que sentimos a realidade através do Senso Comum.

Por exemplo: Agora estou lendo um livro, logo mais vou à escola; enquanto isso. Tenho sede e tomo um refrigerante; sinto um sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em plena aula, etc.
Já a Ciência é uma atividade eminentemente reflexiva.

Ela busca Compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, estudando-o sistematicamente.

Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-se e se afastam dela:

A Ciência aproxima-se do cotidiano porque ela se refere ao real.


A Ciência afasta-se do cotidiano porque ela abstrai a realidade para compreendê-la melhor.


A Ciência afasta-se da realidade transformando a realidade em objeto de investigação o que permite a construção científica sobre o real.





Exemplo:
- Pense na abstração (no distanciamento e no trabalho mental) que Newton teve que fazer para, partindo da fruta que cia da arvore (fato cotidiano), formular a lei da gravidade (fato científico).

Mesmo o cientista mais especializado, ao sair de seu laboratório, está submetido à dinâmica do cotidiano que cria suas próprias “teorias” a partir de teorias científicas. Seja como forma de “simplificá-las” para o uso no dia-a-dia, ou como sua maneira peculiar de interpretar os fatos a despeito das considerações feitas pela ciência.

Todos nós vivemos a maior parte do tempo esse cotidiano e suas “teorias”.

Por exemplo:
- A dona de casa, quando usa uma garrafa térmica para manter quente o café, sabe por quanto
tempo ele ficará aquecido sem fazer cálculo algum e sem conhecer as leis da termodinâmica.

- Quando, em uma roda de amigos, reclamamos de problemas com o fígado quase sempre
alguém nos “receita” um chá de boldo (planta medicinal usada há algumas gerações) sem
saber de suas propriedades farmacológicas.

- E nós mesmos, quando precisamos atravessar uma movimentada rua, sabemos medir a
distância e a velocidade dos automóveis que vêm em nossa direção sem precisar usar
fórmulas ou máquina de calcular.

SENSO COMUM: Conhecimento acumulado com o qual aprendemos facilitar o dia-a-dia e que tem
suas próprias “teorias”.
O Senso Comum mistura, recicla e simplifica os saberes científicos produzindo no indivíduo uma interpretação do cotidiano: uma visão-de-mundo.
Dessa forma, integra, de modo precário (e esse é o seu modo) o conhecimento humano. Por exemplo:

- Quando utilizamos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, “vou ficar neurótico”, na maioria das vezes não se sabe o que, cientificamente, tais termos querem dizer. Esses são exemplos de apropriação que o Senso comum faz da Ciência.

Outros exemplos podem ser considerados e com eles podemos perceber que o Senso Comum se apropria não somente das teorias da Ciência, mas também de outras áreas do conhecimento humano.
Portanto, áreas como Filosofia, Religião, Arte, etc. podem ter seus conceitos e teorias abstraídas pelo Senso Comum para a aplicação no cotidiano.


2 - O Pensamento Complexo.

Mudanças desordenadas
Globalização Riscos Realidade Complexa
Incertezas



Para compreender essa Realidade Complexa: Pensamento Complexo (Teoria da Complexidade)


Teoria da Complexidade: Desenvolvida por Edgar Morin, possibilita o conhecimento da complexidade
através de sua discussão.

Para entender o pensamento complexo é necessário entender o ato de pensar.


- É uma atividade cognitiva inerente ao ser humano.
Pensar: - É a ação mental de elaborar representações mentais, de organizá-las e reorganiza-las
transformando-as em novas representações mentais.


A Representação Mental da realidade percebida não é uma cópia da realidade como tal,

Os seres humanos selecionam aspectos dessa realidade quando formam uma representação mental e criam sua própria imagem de realidade


Componentes do sistema de Representação Mental:

- Seletividade do que é percebido
- Formação de diferentes sentidos em relação à representação mental de uma dada realidade
- Diferentes formas de sua organização em nossa mente


Esses componentes sofrem influências de vários fatores, são eles: o paradigma; O contexto e nossos esquemas pessoais; valores individuais; objetivos e intenções.

Paradigma:

- Kuhun (1994) – é uma estrutura imaginária, um modelo de pensamento, próprio de cada época da história e produzido pela experiência de mundo, pela linguagem própria da época e imposto a todos os domínios do pensamento.

- Morin (1990) – São princípios supralógicos de organização de pensamento;

o estes princípios são constituídos pelos pressupostos filosóficos acerca da realidade.
o Esses princípios são ocultos; governam nossas ações, nossa visão de mundo e das coisas; sem que tenhamos consciência.




Isto é,
são as crenças, conhecimentos e valores que conduzem nosso pensamento;
sem nos darmos conta de tal condução.

Essas crenças valores e conhecimentos são produzidos e transmitidos em cada período da história.
Em outras palavras, o que conhecemos do mundo e da realidade, a forma como interpretamos essas informações está baseada no “Paradigma” da época em que vivemos.




Cada momento histórico produz uma determinada
Representação social
(visão geral de mundo, orientação dos discursos, da ideologia, das crenças e dos pensamentos).



Esses são os componentes do Paradigma.



Segundo Morin (1990), o Paradigma de uma certa época também influencia o modo de se fazer e pensar ciência que é predominante.

O Paradigma da Era Moderna:

O paradigma cartesiano e a concepção de ciência desenvolvida por Newton foram primordiais na era industrial moderna.
O mundo, neste paradigma, é considerado como um grande sistema mecânico, acabado e previsível; independentemente do homem. A missão da ciência era descobrir o funcionamento desse sistema, medi-lo e domina-lo.

Portanto, é um paradigma cuja forma de pensar é linear (causa-efeito), estática e simplista; desconsiderando aspectos que não podem ser observados, ordenados ou mensurados.
Cada “Ciência” no seu lugar e, com seu respectivo “Especialista”.


De certa forma, esse paradigma perdurou desde a Revolução Industrial até o final do século XX.

Hoje, a realidade não concebe mais esse paradigma, esse raciocínio linear, essa ordenação e as simples explicações dos fenômenos.

Nossa realidade é composta de conflitos, mudanças velozes, bens descartáveis, instabilidades e incertezas. Aspectos que devemos levar considerar em um processo decisório.

O contexto e nossos esquemas pessoais:
- Pelo nosso ambiente físico
O contexto em que nos encontramos no momento é constituído - Pelo nosso ambiente sócio-cultural
- Pelo nosso ambiente intelectual

O contexto em que o indivíduo se encontra somada à sua subjetividade são os parâmetros pelos quais ele percebe e interpreta a realidade à sua volta.


Os objetivos e as intenções:

Constituem o 3º componente do sistema de representação mental. Este componente colabora com a construção do pensamento e do modo de subjetivação do indivíduo, ajudando-o a elaborar suas percepções acerca da realidade.

O Pensamento Simples:

Quando fazemos a opção pela busca de idéias claras e objetivas não considerando, na nossa reflexão, aquelas situações ou fatores que não temos condições de compreender naquele momento, como as contradições e as incertezas, estamos usando o Pensamento Simples ou Pensamento Linear.
Este tipo de pensamento é enganoso uma vez que ele falsifica a realidade, pois, ao eliminar alguns dos seus elementos, deturpa a própria realidade, levando-os a conclusões e a decisões errôneas e inadequadas àquela situação.

Ex: O Homem é um ser bio-psico-social. Quando dizemos:

- que a personalidade do individuo é fruto do meio em que vive (redução ao social); ou
- que a liderança é uma característica hereditária (redução ao biológico); ou
- que a inteligência é uma característica da pessoa mentalmente saudável (redução ao psicológico).



Paradigma da simplicidade

Morin (1990): foi a vontade de simplificação que levou a ciência a ordenar e revelar a simplicidade por trás da multiplicidade e da aparente desordem dos fenômenos.
Era a busca da perfeição e da eternidade em detrimento daquilo que aparentemente não tinha uma explicação lógica.
Portanto, com o passar do tempo, o Pensamento Simples não conseguia superar as dificuldades para a explicação dos fenômenos.


Ex: Os seres humanos reproduzem novos seres, mas envelhecem, degradam-se e Morrem.

Estão presentes aí tanto a ordem e o desenvolvimento, quanto a
desordem e a degradação.


O Conflito, a Incerteza, a Contradição, o Imponderável e o Indeterminado são os elementos que devem fazer parte da praxis da Complexidade que incluem a concepção e a percepção da realidade.

- A dicotomia ordem/desordem não é verdadeira
Conclusão: - A ordem e a desordem cooperam entre si; a ordem é precedida pela desordem.
- A aceitação da Complexidade é a aceitação da contradição impossível de ser
ultrapassada







Portanto, A Complexidade (Complexus) pode ser entendida como um tecido de elementos
diferentes da natureza que estão inseparavelmente associados.

É o conjunto de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações,
acasos,que constituem o campo fenomenal.




Usamos o termo PENSAMENTO COMPLEXO para explicitar esse conjunto de idéias.

Resumindo os opostos:

simples complexo
Pensamento Linear redução Pensamento Complexo conjunção
reducionista holismo
segmentado integral (Todo)



Observação: O Pensamento Complexo não funde os opostos em um todo homogêneo; ele mantém a
distinção entre as partes, porém mantendo a identidade das mesmas, mas inclusas no todo.
O todo é maior que a soma das partes.

A complexidade do mundo transparece nas expressões:

Mundo das artes
Mundo da política Mas, só existe um mundo. Todos os outros se entrelaçam no mesmo espaço- Mundo da ciência tempo em que vivemos.
Mundo acadêmico, etc...

TRANSDISCIPLINARIDADE

Nicolescu (Físico) é sua alma articuladora. Desde o Colóquio de Veneza em 1986 tem desenvolvido uma longa reflexão e uma ação criadora que culminou no Centro de Estudos Transdisciplinares (CIRET).

O Colóquio de Veneza foi uma reunião; patrocinada pela UNESCO entre representantes de 16 países nas áreas das Ciências, Artes, Tradições, Religiões e outras do Conhecimento Humano; onde foi discutido o futuro da Ciência e do Conhecimento.
Através de seu manifesto (a Carta de Veneza) foi proposta uma mudança de paradigma no pensamento científico através do Pensamento Complexo e da Transdisciplinaridade.

Definições:

Disciplina corpo específico de conhecimento “ensinável”, com seus próprios antecedentes de educação, treinamento, procedimentos, métodos e áreas de conteúdo.


Multidisciplinaridade ocorre, segundo Piaget (1950), quando a resolução de um problema torna necessário obter informação de duas ou mais áreas do conhecimento, sem que essas áreas não sofram modificações ou enriquecimento. Ex: construção de uma casa (cálculo matemático, hidráulica, elétrica, etc.)


Interdisciplinaridade ainda segundo Piaget, o termo deve ser reservado para designar o nível de interação entre várias disciplinas de uma mesma ciência, reciprocidade, intercâmbio e enriquecimento mútuo das mesmas.Ex: cirurgia (anestesia, radiologia, cirurgião, cardiologista, etc.


Transdisciplinaridade continuando com Piaget (1970), não há somente interações ou reciprocidade entre elas, mas a colocação dessas relações dentro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre as disciplinas. Há a interpenetração entre elas.
Piaget considerou esses conceitos há quase três décadas, mas considerava isso um sonho. Hoje se tornou realidade.







TRANSDISCIPLINARIDADE: “O Pensamento Complexo e a
Transdisciplinaridade
complementam-se.”
É difícil separar o
Pensamento Complexo
e a Transdisciplinaridade.
A Complexidade é mais
abrangente que ela. Como indica o prefixo, lida com

o que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das disciplinas e além de todas elas; sua finalidade é a
compreensão do mundo atual.
A Complexidade é a expressão para
tratar o Mundo Real tal como ele é, indivisível.
Tudo está ligado a tudo.
A Transdisciplinaridade está para
o Mundo Acadêmico, assim como,
o Pensamento Complexo está para
o Mundo Real.









Texto 01
COMPLEXIDADE E PENSAMENTO COMPLEXO
(Texto Introdutório) Humberto Mariotti
Nenhum homem é uma ilha; qualquer homem é uma parte do todo. A morte de qualquer homem me diminui, porque faço parte da humanidade; assim, nunca procures saber por quem dobram os sinos: eles dobram por ti. — JOHN DONNE (1572-1631)
O que é complexidade
1* A complexidade não é um conceito teórico e sim um fato da vida. Corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. Os sistemas complexos estão dentro de nós e a recíproca é verdadeira. É preciso, pois, tanto quanto possível entendê-los para melhor conviver com eles.
2. Não importa o quanto tentemos, não conseguimos reduzir essa multidimensionalidade a explicações simplistas, regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fechados de idéias. A complexidade só pode ser entendida por um sistema de pensamento aberto, abrangente e flexível — o pensamento complexo. Este configura uma nova visão de mundo, que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas.
3. Lembremos uma frase de Jean Piaget: "Os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus meios". A experiência humana é um todo bio-psico-social, que não pode ser dividido em partes nem reduzido a nenhuma delas. Primeiro percebemos o mundo. Em seguida, as percepções geram sentimentos e emoções. Na seqüência, estes são elaborados em forma de pensamentos, que vão determinar o nosso comportamento no cotidiano.
4. O modo como nos tornamos propensos (pela educação e pela cultura) a pensar é que vai determinar as práticas no dia-a-dia, tanto no plano individual quanto no social. Do ponto de vista bio-psico-social, o principal problema para a implantação do desenvolvimento sustentado (e, portanto o desenvolvimento da cidadania) é a predominância, em nossa cultura, do modelo mental linear (ou lógica aristotélica, ou lógica do terceiro excluído).
5. Por esse modelo, A só pode ser igual a A. Tudo o que não se ajustar a essa dinâmica fica excluído. É a lógica do "ou/ou", que deixa de lado o "e/e", isto é, exclui a complementaridade e a diversidade. Desde os Gregos que esse modelo mental vem servindo de base para os nossos sistemas educacionais.
6. Essa lógica levou à idéia de que se B vem depois de A com alguma freqüência, B é sempre o efeito e A é sempre a causa (causalidade simples). Na prática, essa posição gerou a crença (errônea) de que entre causas e efeitos existe sempre uma contigüidade ou uma proximidade muito estreita. Essa concepção é responsável pelo imediatismo, que dificulta e muitas vezes impede a compreensão de fenômenos complexos, como os de natureza bio-psico-social.
7. O modelo mental cartesiano é indispensável para resolver os problemas humanos mecânicos (abordáveis pelas ciências ditas exatas e pela tecnologia). Mas é insuficiente para resolver problemas humanos em que participam emoções e sentimentos (a dimensão psico-social). Um exemplo: o raciocínio linear aumenta a produtividade industrial por meio da automação, mas não consegue resolver o problema do desemprego e da exclusão social por ela gerados, porque se trata de questões não-lineares. O mundo financeiro é apenas mecânico, mas o universo da economia é mecânico e humano.
8. Desde os primeiros dias de escola (e de vida, dentro da cultura), nosso cérebro começa a ser profundamente formatado pelo modelo linear. Para ele, o predomínio de um determinado pensamento, com exclusão de quaisquer outros é "lógico" e perfeitamente "natural". Essa é a base das ideologias em geral e do autoritarismo em particular. Desse modo, fenômenos como a exclusão social são também vistos como "lógicos", "naturais" e "inevitáveis".

9* O modelo mental linear-cartesiano forma a base do empirismo, que diz que existe uma única realidade, que deve ser percebida da mesma forma por todos os homens. Hoje, porém, sabe-se que não existe percepção totalmente objetiva (ver abaixo, no item 11, a posição de Humberto Maturana).
10. Por isso, nos últimos anos esse modelo de pensamento tem sido questionado de muitas formas, inclusive pelo pensamento complexo. Este permite entender os processos autopoiéticos (autoprodutores, auto-sustentados, autogestionários), dos quais a sociedade humana constitui um exemplo.
11. O pensamento complexo baseia-se na obra de vários autores, cujos trabalhos vêm tendo ampla aplicação em biologia, sociologia, antropologia social e desenvolvimento sustentado. Uma de suas principais linhas é a biologia da cognição, de Maturana, que sustenta que a realidade é percebida por um dado indivíduo segundo a estrutura (a configuração bio-psico-social) de seu organismo num dado momento. Essa estrutura muda constantemente de acordo com a interação do organismo com o meio.
12. A diversidade de visões não impede (pelo contrário, pede) que cheguemos a acordos (consensos sociais) sobre o mundo em que vivemos. Esses consensos é que vão determinar as práticas sociais. Para que possamos chegar a consensos que levem em conta o respeito à diversidade de pontos de vista é necessário observar alguns parâmetros básicos:
· O que chamamos de racional é o resultado de nossas percepções. No início, elas surgem como sentimentos e emoções. Só depois é que se transformam em pensamentos, que geram discursos, que por fim são formalizados como conceitos.
· O racional vem do emocional, não o contrário. Isso não quer dizer que devamos deixar de ser racionais. Significa apenas que precisamos aprender a harmonizar razão e emoção, pensamento mecânico e pensamento sistêmico. Essa é a proposta básica do modelo complexo.
· Uma cultura é uma rede de conversações que define um modo de viver. Toda cultura é definida pelos discursos que nela predominam. Estes se originam nas conversações, que começam entre indivíduos, estendem-se às comunidades e por fim a todo o âmbito cultural.
· Os consensos sociais (que determinam, por exemplo, o que é permitido e o que não é, o que é real e o que é imaginário numa determinada cultura) resultam desses discursos, que por sua vez são oriundos das redes de conversação.
· Cresce-se numa cultura vivendo nela como um indivíduo participante da rede de conversações que a define. Crescer numa cultura significa, então, adquirir e desenvolver a cidadania.
· Uma cultura que não desenvolve a cidadania de seus membros não cresce, permanece subdesenvolvida. Logo, não pode sequer começar a pensar em desenvolvimento sustentado.
· Como vimos há pouco, todo sistema racional começa no emocional: o que pensamos vem do que sentimos. É por isso que nenhum argumento racional pode convencer as pessoas que já não estejam desde o início convencidas ou propensas a isso.
· Os argumentos racionais são úteis para iniciar conversações. Mas se eles insistem em permanecer lineares (ou seja, excludentes, apegados ao "ou/ou"), isso significa que querem manter-se como os únicos "verdadeiros", isto é, que não respeitam a diversidade. E esta, como sabemos, é a base da cidadania.
13. Dessa maneira,
· Não se pode desenvolver uma compreensão satisfatória da cidadania e de desenvolvimento sustentado com base apenas no pensamento linear.
· Por outro lado, o pensamento sistêmico, quando isolado, é também insuficiente para as mesmas finalidades.
· Há, portanto, necessidade de uma complementaridade entre ambos os modelos mentais. O pensamento linear não se sustenta sem o sistêmico, e vice-versa. O desenvolvimento sustentado precisa de um modelo de pensamento que lhe dê base e estrutura. Este é o pensamento complexo.
· Como os processos de pensamento hegemônicos em nossa cultura estão unidimensionalizados pelo modelo linear, só um esforço educacional que comece na infância terá possibilidades de reverter de modo significativo esse quadro. Isso implica pelo menos o prazo de uma geração.
· No caso dos adolescentes e adultos de hoje, é possível alcançar mudanças substanciais nessa área, desde que eles sejam educacionais e culturalmente sensibilizados.
· Para isso, é fundamental a atuação das entidades do terceiro setor (entidades comunitárias), porque por meio delas é possível questionar a rigidez institucional e o modelo mental linear que, em geral, caracteriza as estruturas governamentais.
Pensamentos lineares, sistêmicos e complexos.
1. Em primeiro lugar, lembremos o exemplo de Joseph O’Connor e Ian McDermott. A Terra é plana? É claro que sim: basta olhar o chão que pisamos. No entanto, como mostram as fotografias dos satélites e as viagens intercontinentais, ela é obviamente redonda. Concluímos então que do ponto de vista do pensamento linear, de causalidade simples e imediata, a Terra é plana. Uma abordagem mais ampla, porém, mostra que ela é redonda e faz parte de um sistema.
2. Precisamos dessas duas noções para as práticas do cotidiano. Mas elas não são suficientes, o que nos leva a ampliar o exemplo desses autores e dizer que:
a) do ponto de vista do pensamento linear a Terra é plana; b) pela perspectiva do pensamento sistêmico ela é redonda; c) por fim, do ângulo do pensamento complexo — que engloba os dois anteriores — ela é ao mesmo tempo plana e redonda.
3. Recapitulemos:
· O pensamento simples ou linear, ou ainda, linear-cartesiano é a tradução atual da lógica de Aristóteles. *Trata-se de uma abordagem, necessária (e indispensável) para as práticas da vida mecânica, mas que não é suficiente nos casos que envolvem sentimentos e emoções. Ou seja, não é capaz de entender e lidar com a totalidade da vida humana.
· O pensamento sistêmico é um instrumento valioso para a compreensão da complexidade do mundo natural. Porém, quando aplicado de modo mecânico, como simples ferramenta (como se vem fazendo nos dias atuais, principalmente nos EUA, no mundo das empresas), proporciona resultados meramente operacionais, que não são suficientes para compreender e abranger a totalidade do cotidiano das pessoas.
· Por outras palavras, o pensamento sistêmico pode proporcionar bons resultados no sentido mecânico-produtivista do termo, mas certamente não é o bastante para lidar com a complexidade dos sistemas naturais, em especial o humano.
· É indispensável ter sempre em mente que, em que pese a sua grande importância, ele é apenas um dos operadores cognitivos do pensamento complexo. Por isso, quando utilizado, como tem sido, separado da idéia de complexidade, diminuem a sua eficácia e potencialidades.
· *O pensamento complexo resulta da complementaridade (do abraço, como diz Edgar Morin) das visões de mundo linear e sistêmica. Essa abrangência possibilita a elaboração de saberes e práticas que permitem buscar novas formas de entender a complexidade dos sistemas naturais e lidar com ela, o que evidentemente inclui o ser humano e suas culturas. As conseqüências práticas dessa visão bem mais ampla são óbvias.
Alguns princípios do pensamento complexo
· Tudo está ligado a tudo.
· O mundo natural é constituído de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares.
· Toda ação implica um feedback.
· Todo feedback resulta em novas ações.
· Vivemos em círculos sistêmicos e dinâmicos de feedback, e não em linhas estáticas de causa-efeito imediato.
· Por isso, temos responsabilidade em tudo o que influenciamos.
· O feedback pode surgir bem longe da ação inicial, em termos de tempo e espaço.
· Todo sistema reage segundo a sua estrutura.
· A estrutura de um sistema muda continuamente, mas não a sua organização.
· Os resultados nem sempre são proporcionais aos esforços iniciais.
· Os sistemas funcionam melhor por meio de suas ligações mais frágeis.
· Uma parte só pode ser definida como tal em relação a um todo.
· Nunca se pode fazer uma coisa isolada.
· Não há fenômenos de causa única no mundo natural.
· As propriedades emergentes de um sistema não são redutíveis aos seus componentes.
· É impossível pensar num sistema sem pensar em seu contexto (seu ambiente).
· Os sistemas não podem ser reduzidos ao meio ambiente e vice-versa.

Alguns benefícios do pensamento complexo
· Facilita a percepção de que a maioria das situações segue determinados padrões.
· Facilita a percepção de que é possível diagnosticar esses padrões (ou arquétipos sistêmicos, ou modelos estruturais) e assim intervir para modificá-los (no plano individual, no trabalho e em outras circunstâncias).
· Facilita o desenvolvimento de melhores estratégias de pensamento.
· Permite não apenas entender melhor e mais rapidamente as situações, mas também ter a possibilidade de mudar a forma de pensar que levou a elas.
· Permite aperfeiçoar a comunicações e as relações interpessoais.
· Permite perceber e entender as situações com mais clareza, extensão e profundidade.
· Por isso, aumenta a capacidade de tomar decisões de grande amplitude e longo prazo.
O que se aprende por meio do pensamento complexo
· Que pequenas ações podem levar a grandes resultados (efeito borboleta).
· Que nem sempre aprendemos pela experiência.
· Que só podemos nos autoconhecer com a ajuda dos outros.
· Que soluções imediatistas podem provocar problemas ainda maiores do que aqueles que estamos tentando resolver.
· Que não existem fenômenos de causa única.
· Que toda ação produz efeitos colaterais.
· Que soluções óbvias em geral causam mais mal do que bem.
· Que é possível (e necessário) pensar em termos de conexões, e não de eventos isolados.
· Que os princípios do pensamento sistêmico podem ser aplicados a qualquer sistema.
· Que os melhores resultados vêm da conversação e do respeito à diversidade de opiniões, não do dogmatismo e da unidimensionalidade.
· Que o imediatismo e a inflexibilidade são os primeiros passos para o subdesenvolvimento, seja ele pessoal, grupal ou cultural.
[Este texto faz parte do livro de Humberto Mariotti As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade (São Paulo, Editora Palas Athena, 2000)].
Questionário

1) Como pode ser entendida a Complexidade?
2) Segundo o Pensamento Linear, como deve ser entendida a realidade?
3) Como o Pensamento Complexo entende a realidade?
4) Resumidamente, quais são os benefícios do Pensamento Complexo?
5) Porque o Pensamento Cartesiano não consegue entender a atual realidade?









Texto 02 - COMPLEXIDADE E LIBERDADE (Edgar Morin)
A complexidade nos convoca para uma verdadeira reforma do pensamento, semelhante à produzida no passado pelo paradigma copernicano. Mas essa nova abordagem e compreensão do mundo, de um mundo que se "autoproduz", confere também um novo sentido à ação: trata-se de fazer nossas apostas, o que vale dizer que com a complexidade ganhamos a liberdade.
A grande descoberta do século é que a ciência não é o reino da certeza. Ela se baseia, seguramente, numa série de certezas local e espacialmente situadas. A rotação da Terra em torno do sol, por exemplo, nos parece certa; mas seria possível dizer isso, tanto 100 milhões de anos antes de nossa era quanto depois, sabendo-se que o Universo está submetido a flutuações e perturbações, às quais hoje chamamos de movimento caótico? A ciência é de fato um domínio de múltiplas certezas, e não o da certeza absoluta no plano teórico. A obra de Popper se tornou indispensável para a compreensão de que uma teoria científica não existe como tal, a não ser que, na medida em que aceita ser falível, submete-se ao jogo da "falsificabilidade" e, portanto, aceita sua biodegradabilidade.
Ordem, separabilidade e lógica: os pilares da ciência clássica.
A ciência clássica se apóia nos três pilares da certeza, que são a ordem, a separabilidade e a lógica. Para ela, esses eram os fundamentos absolutos.
A ordem do Universo, tal como entendida por Descartes e Newton, era o produto da perfeição divina. Com Laplace, a hipótese de Deus é descartada: a ordem funciona sozinha, é "autoconsolidada". A idéia de determinismo absoluto tornou-se objeto de uma crença quase religiosa entre os cientistas, que por isso se esqueceram de que ela não pode, de modo algum, ser demonstrada.
A segunda idéia-chave era a separabilidade. Conhecer é separar. Em face de um problema complicado, dizia Descartes, é preciso dividi-lo em pequenos fragmentos e trabalhá-los um após o outro. Assim, as disciplinas científicas são desenvolvidas a partir da divisão do interior das grandes ciências, a física, a biologia etc. o que dá origem a compartimentos sempre novos. No limite, pode-se dizer que a separação entre ciência e filosofia e, mais amplamente, entre ciência e cultura humanista — filosofia, literatura, poesia etc. —, está instituída em nosso século como uma necessidade legítima.Nas ciências, a separação entre o observador e sua observação, ou seja, entre nós, humanos, que consideramos os fenômenos, e estes (os objetos de conhecimento), tinham valor de certeza absoluta. O conhecimento científico, objetivo, implicava a eliminação do indivíduo e da subjetividade. Se existisse um sujeito, ele causaria perturbação — seria um ruído.
Terceiro pilar: a lógica, a indução. Com base em um número importante e variado de observações, podia-se tirar delas leis gerais. Quanto à dedução, era um meio implacável de conduzir à verdade. Os princípios aristotélicos da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído, permitiam eliminar toda confusão, equívoco e contradição.
A lógica, a separabilidade e a ordem levaram para a ciência clássica essa certeza absoluta, na qual ela se baseia. E os resultados têm sido tão brilhantes que acabaram, paradoxalmente, colocando em xeque os princípios fundamentadores da separação. Foi a ordem, isto é, o determinismo (tudo o que escapa ao acaso, às perturbações e à imprevisão), que entrou primeiro em crise. Com efeito, a termodinâmica introduziu a desordem molecular no fenômeno chamado calor. Sabemos hoje que nosso Universo tem uma origem calorífica, surgiu de um fenômeno térmico inicial, uma espécie de explosão seguida de enorme agitação.
A presença da desordem universal se revela em todos os níveis: microscópico, cosmofísico e também histórico humano. Em relação a este, lembramos que a história não se reduz a processos determinísticos: é também feita de bifurcações, acasos, crises, daquilo que Shakespeare chamou de "o som e a fúria". Isso não quer dizer, no entanto, que a desordem tomou o lugar da ordem. Um Universo assim seria tão insensato e impossível como aquele em que reinasse a ordem pura.
No reinado da ordem pura não há criação, não há possibilidade de nada novo. Se só existisse a desordem, agitação, a álea, o Universo seria simplesmente inviável. É preciso, portanto, que desde o começo um certo número de princípios, considerados como de ordem, provoquem, sob certas condições, alguns encontros nessa agitação de partículas. O princípio de interação forte ligará e formará núcleos; o princípio de interação eletromagnética impelirá os elétrons, para que eles se coloquem em volta do núcleo e formem os átomos; enfim, o princípio gravitacional atua no plano da formação dos astros, das galáxias...
Em outros termos, estamos diante deste paradoxo: as noções de ordem e desordem se repelem mutuamente. O Universo é um coquetel de ambas, uma mistura muito diferente segundo os casos, as condições, os lugares, os momentos... De acordo com o ângulo de observação, um dado fenômeno pode ao mesmo tempo se inclinar para um lado ou para o outro. Os átomos de carbono, por exemplo, são formados nos sóis anteriores ao nosso, pela reunião instantânea de três núcleos de hélio. No interior dessas fantásticas forjas que são os astros, as interações são inumeráveis e o encontro, no mesmo momento, de três núcleos de hélio, é tão raro quanto aleatório. Entretanto, uma vez ocorrido, uma lei entra em jogo: a do carbono que vai ser produzido.
É no encontro da ordem e da desordem que se produz à organização. Quando os três núcleos de hélio se reúnem, nasce uma delas, a do átomo de carbono. Essas organizações criam, no seu próprio interior, uma ordem que lhes é própria. O mundo dos seres vivos obedece a todas as leis da física e da química; sua ordem é baseada na autoprodução, na regeneração etc.
Quanto á separabilidade, percebeu-se que ela leva à divisão das partes constituintes dos conjuntos organizados em sistemas, o que proporciona um conhecimento insuficiente, mutilado. Pode-se extrair um corpo de seu meio natural, colocá-lo num contexto experimental, controlado pelas variações que sobre ele atuam. Não é possível conhecer, numa única avaliação, a relação profunda que existe entre o corpo e seu ambiente. Os seres vivos não são nada sem o seu meio. As experiências realizadas em cativeiro, para investigar a inteligência de seres sociais como os chimpanzés, não nos têm permitido saber o que eles aprenderam depois delas. Com efeito, no curso de observações pacientes desses animais, em seu meio natural e em suas sociedades, pôde-se constatar que os indivíduos são diferenciados e que existem relações muito complexas entre eles. O chimpanzé adulto, por exemplo, não pratica o incesto.
A separabilidade perdeu seu valor absoluto. Uma das peculiaridades de um conjunto organizado em sistema decorre do fato de que, ao existir, essa organização produz qualidades novas, chamadas "emergências". Estas retroagem sobre o todo, e não podem ser identificadas quando se tomam os elementos isoladamente. Desse modo, a organização viva gera um certo número de qualidades, como autoprodução, autonutrição e auto-reparação. Tais qualidades não se encontram nas partes, mas as beneficiam. Da mesma forma, uma sociedade produz emergências culturais, como a linguagem, que retroage sobre os indivíduos e lhes permite, por sua aquisição (que é também conhecimento), tornarem-se plenamente humanos.
Consumou-se hoje, nas ciências, uma segunda transformação. A primeira aconteceu na física, no começo deste século, e destronou a ordem. A outra começou na segunda metade do século, com as ciências ditas sistêmicas, que lidam com os sistemas ecológicos espontâneos, que nascem das interações entre as plantas, os animais, o terreno geofísico, o clima.
Todas essas interações produzem um conjunto mais ou menos auto-regulado, submetido a perturbações. Dessa maneira, a partir dos anos 80, a ecologia começou a levar em conta, além dos ecossistemas, o sistema ainda mais complexo e mais ou menos regulado que é a biosfera. Isso permitiu acrescentar os seres humanos e sua civilização técnica, e prever com alguma certeza os riscos possíveis da desregulação.
A partir da descoberta da tectônica das placas, nos anos 60, as ciências da Terra (sismologia, vulcanologia, geologia), que não se comunicavam entre si, hoje são articuladas umas às outras. Essa circunstância tem permitido compreender o planeta como um conjunto articulado e complexo. O ecologista, por exemplo, não conhece todos os dados da zoologia, botânica, física, geografia; tem um conhecimento parcial de cada uma, "um pouco de tudo", como dizia Pascal. No entanto, ao apelar para as competências dessas diferentes especialidades, ele dá um sentido a seus conhecimentos e os articula entre si. Infelizmente, a sociologia não fez essa revolução. A biologia também não.
A cosmofísica, na realidade, tornou-se inseparável da cosmologia, que é um ensaio de compreensão do mundo. A revolução da ressurreição do cosmos (durante um século, o espaço-tempo — uma espécie de infinito — havia tomado o seu lugar) começou logo que se constatou o afastamento das galáxias. Num determinado momento, supunha-se que elas eram muito próximas umas das outras e que havia existido um núcleo inicial. Hoje sabemos que o cosmos tem uma história e que ela sofreu transformações. O cosmólogo foi levado a refletir sobre o mundo, sua origem, seu propósito ou sentido, se é que existe um. Ele retoma assim a relação filosófica, reinventa uma filosofia em estado selvagem. Com efeito, por falta de interesse dos filósofos, os cientistas são obrigados a refletir sobre o sentido de suas descobertas.
A questão: "O que é o real?", que parecia tão evidente, reapareceu. O que é o Universo onde — para seguir d'Espagnat — as coisas obviamente separadas são, num certo nível, inseparáveis, a partir do momento em que interagem? Trata-se de falar de inseparabilidade na separabilidade. O grande desafio do conhecimento repousa sobre esse paradoxo: para uma mesma realidade, depara-se ao mesmo tempo com o contínuo e com o descontínuo. As célebres experiências sobre a onda e o corpúsculo, relativas à natureza da partícula, mostraram que ela se comporta tanto como ondulação quanto como grânulo. Ou seja: ora de modo contínuo, ora de forma descontínua — o que é contraditório do ponto de vista lógico. Reencontramos os mesmos problemas no que se refere à sociedade: se a consideramos de modo global, trata-se de um continuum. Os indivíduos nela se dissolvem, como ainda imaginam numerosos sociólogos. Ou então, pode-se considerar que tanto os indivíduos quando a sociedade se dilui, o que permite a certos autores dizer que esta não existe, e que só contam as interações entre as pessoas. No caso da espécie e do indivíduo é a mesma coisa: não existem senão indivíduos. Contudo, quando se leva em conta um longo espaço de tempo, eles se dissolvem e surge a noção contínua de espécie.
Eis o paradoxo do separável e do inseparável. Pascal não só já o havia colocado, mas tinha também indicado o caminho a seguir para avançar no conhecimento. Que dizia ele? Que "sendo todas as coisas ajudadas e ajudantes, causadas e causadoras, estando tudo unido por uma ligação natural e insensível, acho impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, e impossível conhecer o todo sem conhecer cada uma das partes". Nessa frase, de uma densidade e clareza extraordinárias, ele formula — no mesmo momento em que Descartes, triunfante, introduz o princípio da separação absoluta — o programa do conhecimento contemporâneo, que ainda não se conseguiu pôr em prática.
No que concerne à lógica, o umbral foi transposto no momento em que certos teóricos, ou pensadores, mostraram os limites da indução. Segundo o célebre exemplo de Popper, a regra geral que diz que "todos os cisnes são brancos" já não é una, porque não se pode pressupor que não existam, em algum lugar, cisnes negros. A indução não é certeza absoluta; significa, em muitos casos, a existência de fortes possibilidades, de quase-certezas.
Essa "derrapagem", que ocorre também na dedução, foi assinalada pelos gregos. É o "paradoxo de Creta", segundo o qual todos os cretenses são mentirosos. Se um deles disser a verdade será, portanto, um mentiroso, porque todos os demais o são.
Esse paradoxo foi retomado por Russell, que tentou superá-lo. Ele nos conduz ao teorema de Gödel, cujo sentido é múltiplo, desde que queiramos investigá-lo além de seus limites matemáticos. É um problema de lógica fundamental, que nos ensina que nenhum sistema tem a capacidade de dar a si próprio a prova de sua consistência, atribuir-se uma certeza suficiente a partir de suas próprias fontes. Conseqüência metológica: nenhum ser humano pode se autoconhecer por completo. O mesmo acontece com a Humanidade. Eis uma abertura reveladora da inconclusibilidade do conhecimento — e da lógica.
A partir daí, a ciência clássica se defrontou com a contradição e começou a temer o erro. Niels Bohr teve a coragem de afrontar a aporia da onda e do corpúsculo sem poder ultrapassá-la, o que significa reconhecer que se trata de dois termos contraditórios e complementares. Admite-se hoje que é possível chegar, por meios racionais e empíricos, a essas contradições. De resto, Kant já havia mostrado que no horizonte da razão havia um certo número de impasses fundamentais.
Pode-se enfrentar esse problema não sonhando entrar numa nova lógica, que nos permita integrar as contradições, mas mostrando que é possível promover um incessante jogo de circularidade entre nossa lógica tradicional e as transgressões necessárias ao progresso de uma racionalidade aberta. Esse propósito pode ser ilustrado tomando o aforismo de Heráclito: "Viver de morte, morrer de vida". Eis uma proposição extravagante. No entanto, sabemos hoje que os seres vivos — nosso organismo, por exemplo — ao funcionar degradam sua energia, isto é, as moléculas de suas células. Estas morrem e são substituídas por outras. Dizendo de outra forma, nossa vida continua graças à morte celular, porque o organismo é dotado de um poder de regeneração contínua. Cada batimento do coração, cada movimento respiratório, é uma obra de regeneração. O oxigênio é um detoxificante.

Do mesmo modo, uma sociedade vive da morte de seus indivíduos. Faz isso passando às novas gerações a cultura que começa a se decompor nos cérebros mais senis. É como viver da morte. Essa contradição lógica fundamental pode ser explicada, etapa por etapa, de modo segmentar, sem sair do caminho lógico (as células têm a capacidade de se reproduzir). Entretanto, para compreender esse fenômeno básico necessitamos do paradoxo (que vale também para os ecossistemas) chamado circularidade trófica, que ilustra a recursividade da vida: o ciclo vital, que é também de morte. São duas faces da mesma realidade. Morrer de vida: esse é o nosso processo de rejuvenescimento contínuo. É "mortificante" remoçar, eis a trágica lição da vida.
Estas formulações nos permitem unir o que o pensamento clássico não conseguiu. Continua sendo verdade que o maior inimigo da vida é a morte, e que o maior desafio ao fenômeno da decomposição é o renascimento da vida. O pensamento deve ser capaz de confrontar os antagonismos, poder enxergar as aporias, sem que para tanto precise renegar o valor da lógica, a dedução ou a indução.
O pensamento complexo
Desses três desafios — a relação entre a ordem, a desordem e a organização; a questão da separabilidade ou a distinção entre separabilidade e não-separação; e o problema da lógica — podem ser tiradas as três vertentes do pensamento complexo.
Discutir sem dividir: a palavra complexus retira daí seu primeiro sentido, ou seja, "o que é tecido junto". Pensar a complexidade é respeitar a tessitura comum, o complexo que ela forma para além de suas partes.
A segunda linha fundamental é a imprevisibilidade. Um pensamento complexo deve ser capaz de não apenas religar, mas de adotar uma postura em relação à incerteza. As ciências físicas, que descobriram a incerteza, encontraram estratégias para lidar com ela, utilizando a estatística, por exemplo. A eletrônica permite alcançar resultados de grande precisão, em termos de conhecimento desse mundo flutuante. O pensamento capaz de lidar com a incerteza existe no domínio das ciências, mas não nos âmbitos social, econômico, psicológico e histórico.
O terceiro ponto é a oposição da racionalização fechada à racionalidade aberta. A primeira pensa que é a razão que está a serviço da lógica, enquanto a segunda imagina o inverso. Racionalizar significa acreditar que, se um determinado sistema é coerente, é, portanto perfeito e por isso não precisa ser verificado. Vivemos sob o império de idéias racionalizadoras, que não conseguem se dar conta do que acontece e privilegiam os sistemas fechados, coerentes e consistentes. A ciência econômica contemporânea — formalizada e matemática — é um magnífico exemplo de racionalização. É inteiramente fechada não consegue perceber as paixões, a vida, a carne dos seres humanos. Por isso, é incapaz de fazer previsões quando surgem eventos inesperados. Mais ainda que no século de Moliére, os Disfoirus triunfam.
O desafio é hoje generalizado. Falar da incerteza é falar do caos. Emprego esse termo em seu sentido original, e não no derivado das teorias sobre o tema. Trata-se, como no pensamento grego, da idéia de que o cosmos, ou universo ordenado, nasce do caos, isto é, que forças genésicas extremamente violentas, comportando potencialmente a ordem e a desordem indiferenciadas, podem se exprimir num determinado momento. Os gregos pensavam que a origem do organizado, ou racional, é a loucura. É o que sustenta Platão, quando diz que diké, a justiça, é filha de hubris, o delírio. O caos é um pouco daquilo que corresponde à palavra physis, isto é, o mundo no qual estamos e do qual as coisas nascem. Está continuamente presente sob o cosmos, ou — pouco importa — no interior dele. O Universo é caos. Isso quer dizer que forças de desordem, ordem e organização brotam continuamente do seu seio, o que dá origem à constituição de novas estrelas, a colisões de galáxias e, em nossa Terra, ao conflito de impulsos de barbárie e associação.
De acordo com a teoria do caos, processos deterministas por natureza conduzem, com grande rapidez, a estados imprevisíveis e aparentemente desordenados. Por quê? Porque as interações são incontroláveis e o conhecimento total e absoluto dos estados iniciais não nos é permitido. É uma maneira de dizer que, mesmo na ocorrência de um determinismo inicial, há imprevisibilidade e desordem aparentes. O que compreendeu Henri Atlan, o termodinâmico de origem austríaca, quando disse que a vida existe à temperatura de sua própria destruição? Segundo o seu belo livro Entre le Cristal et la Fumée [Entre o Cristal e a Fumaça], é preciso entender que não somos nem fumaça nem cristal. Não somos seres fluidos nem sólidos. Somos híbridos que vivem à temperatura de sua combustão e destruição.
No desafio da complexidade, certos filósofos podem nos ajudar: Heráclito, com o enfrentamento das contradições; Sócrates com a dialética, cujo jogo de oposições faz progredir o conhecimento; Nicolás de Cusa, no plano místico; João da Cruz; Jacob Boehme; Pascal, em cuja obra não se reconheceu o papel central que desempenham as contradições; Hegel, evidentemente; Nietzsche, até certo ponto.
A emergência dos sistemas
Entretanto, para que adquiríssemos os meios intelectuais e conceituais necessários à entrada no universo da complexidade, foi preciso esperar pelos anos 50, quando surgiram três teorias novas. A primeira foi a cibernética de Norbert Wiener, que é ao mesmo tempo engenheiro e pensador. A ele devemos a idéia de retroação e circularidade, que estava latente desde a obra de Marx, na qual a superestrutura retroage sobre a infra-estrutura. Essa idéia de ciclos retroativos, que quebram a causalidade linear, mostra que os fatos podem, eles próprios, tornar-se causadores, ao retroagir sobre a causa, como Pascal já havia assinalado.
Essa recursividade tem dois aspectos: um, regulador, que impede que os desvios destruam os sistemas; e outro potencialmente destruidor, chamado de feedback positivo, que os fazem explodir.
Nos anos 60, outro pensador, o nipo-americano Magoroh Maruyama, fez a seguinte proposição: não se pode ter criação, a não ser por meio dos feedbacks positivos. Em outros termos, quando um sistema de desregula, há um desvio que se amplifica. Nesse caso, o sistema — sobretudo se é complexo (social ou humano) — em vez de se desgovernar pode transformar-se. A criação não é possível senão pela desregulação.
O segundo aporte conceitual é a teoria dos sistemas, que propõe que o todo é maior que a soma de suas partes, mas também que é menor que ela; assim, a totalidade pode oprimir as partes e impedir que estas dêem o melhor de si mesmas. Isso tem conseqüências político-sociais indiretas. Um grande império não é melhor porque é um todo: sua bancarrota pode ser salutar, ao liberar as potencialidades das partes dominadas.
A idéia capital aqui é a de emergência. As qualidades que aparecem podem ser induzidas, mas não podem, em contrapartida, ser deduzidas logicamente. As emergências estão em qualquer espécie de flor. A evolução biológica levou, num determinado momento, a uma verdadeira explosão floral — mas persiste a questão de saber por que as flores têm necessidade de mostrar o seu sexo, de serem exibicionistas!
O terceiro aporte é a teoria da informação, de Shannon e Weaver. É um instrumento capaz de lidar com a incerteza, com o inesperado. Extrai-se do mundo do ruído algo de novo e muitas vezes surpreendente. A noção de informação, ao mesmo tempo física e semântica, nos introduz num mundo onde o novo pode aparecer, ser reconhecido, assinalado... Captamos o novo nessa relação permanente de ordem e redundância, na integração do conhecido e na ordem do ruído.
Essas três teorias formam uma espécie de "rés-do-chão". No primeiro estágio, pode-se colocar a contribuição de Von Foerster e Von Neumann. Este, refletindo sobre a diferença entre as máquinas artificiais — as que produzimos a partir de elementos fabricados e confiáveis — e as máquinas naturais, cujos elementos são pouco confiáveis (essas moléculas que se degradam por um nada!), perguntou-se: por que as primeiras, logo que começam a funcionar, iniciam seus processos de usura e degradação, enquanto que as segundas — os seres vivos — podem progredir, evoluir? A resposta é que os viventes têm o poder da auto-reparação, da auto-reforma.
A segunda idéia, de Von Foerster, é a "ordem a partir do ruído". Seu jogo experimental era o seguinte: tomava de uma caixa, dentro da qual colocava cubos com determinados lados imantados. Em seguida provocava agitação, isto é, introduzia na caixa uma energia não-direcional e, portanto, a desordem. Apesar disso, a presença de um princípio de ordem — os ímãs — permitia que os cubos chegassem a uma arquitetura bem organizada. Eis o fenômeno da auto-organização.


O segundo estágio é o que se poderia chamar de auto-eco-organização. Um ser vivo precisa nutrir-se para regenerar sua energia. Para ser autônomo, tem necessidade do meio ambiente, de onde retira não energia bruta, mas já organizada. Do mesmo modo, temos gravada em nossa organização uma ordem cósmica, a alternância do dia e da noite. Essa ordem (por uma espécie de mecanismo cíclico, que pode se tornar independente da luz e da obscuridade, como mostraram experiências em cavernas sem luz) nos permite alternar a vigília e o sono...
Tudo isso para dizer que a separação entre o conhecedor e o conhecido não pode ser alcançada. Sabe-se, depois de Kant, que para conhecer o mundo projetamos nele nossas categorias, nossos a priori espaciais e temporais.
Por uma convivência solidária
Essa circunstância pode ser ainda confirmada pelo funcionamento do cérebro humano: isolado no interior de uma caixa fechada, ele, todavia se comunica com o Universo pela mediação de terminais sensoriais. Os estímulos visuais, por exemplo, são transformados num código binário, que tecido cerebral retrabalha e transforma em percepção ou representação. O conhecimento não é senão uma tradução, uma reconstrução. Não conhecemos a essência das coisas exteriores. Sabemos das coisas objetivas, que podemos confirmar, mas não há conhecimento sem integração do conhecido. Essa circunstância vale também para os fenômenos sociais e humanos. O sociólogo e o economista são parte da sociedade, e a totalidade desta — ou seja, a cultura, a linguagem — está também neles. Num estágio superior, vejo a necessidade de uma reforma paradigmática dos conceitos dominantes e de suas relações lógicas, que controlam, inconsciente e incorrigivelmente, todo o nosso conhecimento. O paradigma sob o qual vivemos é o da disjunção e da redução: e ele nos torna cegos, nesta era de globalidade e mundialização.
Não podemos produzir por decreto a reforma necessária, porque ela está inscrita no próprio curso da história; pensemos na passagem do paradigma ptolomaico ao copernicano. Tal reforma consiste em passar para um paradigma de religação, conjunção, implicação mútua e distinção. Ela pressupõe uma mudança no ensino, que por sua vez implica uma transformação do pensamento. É um círculo vicioso, do qual precisamos sair um dia... Um conhecimento pertinente é aquele que é capaz de contextualizar, isto é, religar, globalizar. A ação adquire um novo sentido: fazer as apostas. Pascal — novamente ele — apostava em Deus. Nós apostamos em valores que não podem ser fundamentados. Assim como o mundo, a ética se autoproduz.
Conhecer é também uma estratégia, que pode se modificar em relação ao programa inicial, que é flexível e leva em conta o que chamo de ecologia da ação. Sabe-se hoje que uma ação, lançada ao mundo, entra num turbilhão de interações e retroações, que podem se voltar contra a intenção inicial.
Por fim, uma última idéia: o sentimento de uma comunidade de destino profundo, que liga as idéias de solidariedade e fraternidade. O laço entre complexidade e solidariedade não é mecânico. Uma sociedade muito complexa proporciona muitas liberdades de jogo a seus indivíduos e grupos. Permite-lhes ser criativos, algumas vezes delinqüentes. A complexidade tem, assim, seus riscos. Ao atingir o extremo da complexidade a sociedade se desintegra. Para impedi-lo, pode-se recorrer a medidas autoritárias; entretanto, supondo que desejemos o mínimo possível de coerção, o único cimento que nos resta é a solidariedade vivida.
EDGAR MORIN é diretor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, e presidente da Association pour la Pensée Complexe, também sediada em Paris.
Questionário:

Baseado nos textos que você leu e nas aulas assistidas, responda:

1) O que nos diz a teoria do caos?
2) Quais as teorias que surgem para contribuir com o Pensamento Complexo
3) Como a Desordem colabora com a Ordem?
4) Porque o Pensamento Linear não é adequado para acompanhar a Globalização?
5) Defina Complexidade.

Semântica Linguística Estrutural - Linguagem e Persuasão

1 INTRODUÇÃO

Persuadir não é sinônimo imediato de coerção ou mentira. Pode se apenas a representação do desejo de se prescrever a adoção de alguns comportamentos, cujos resultados finais apresentam saldos socialmente positivos.

Para existir persuasão é necessário que certas condições se façam presentes: a mais óbvia é a livre circulação de idéias

O discurso persuasivo tende a nos fazer chorar, a estimular as nossas lágrimas, como pode acontecer com uma fotonovela.


2 A TRADIÇÃO RETÓRICA

Para Aristóteles a retórica tem algo de ciência, é um corpus com determinado objeto e um método verificativo dos passos seguidos para se produzir a persuasão.

Caberia à retórica não assumir uma atitude ética, dado que seu objetivo não é o de saber se algo é ou não verdadeiro, mas sim analítica. Cabe a ela verificar quais os mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar a dimensão de verdade.

2.1 Retórica e persuasão

A retórica não é persuasão, mas, pode revelar como se faz uma.

Os discursos institucionais são o lugar da persuasão.

A retórica é analítica e é uma espécie de código dos códigos, abarcando todas as formas discursivas.

2.2 Estrutura do texto

EXÓRDIO - É a Introdução, o começo do discurso, pode ser uma indicação do assunto, um conselho, um elogio, uma censura. Esta fase é importante pois visa a assegurar a fidelidade dos ouvintes;

NARRAÇÃO – É a Argumentação, o assunto, onde os fatos são arrolados, os eventos indicados;

PROVAS – Deve ser comprovado aquilo que se está dizendo se o discurso é persuasivo;

PERORAÇÃO – É o epílogo, a conclusão, é a última oportunidade para assegurar a fidelidade do receptor e se compõe em 4 partes:

- dispõe o receptor mal para com o adversário;

- Amplifica ou atenua o que se disse;

- Excita as paixões no ouvinte;

- Procede a uma recapitulação.

2.3 Verdade e verossimilhança

Persuadir antes de mais nada, é sinônimo de submeter, daí sua vertente autoritária. Quem persuade leva o outro a aceitação de uma idéia.

Verossímil é aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica, daí a necessidade para se construir o “efeito de verdade” da existência de argumentação, provas, peroração e exórdios.

Persuadir não é apenas sinônimo de enganar, mas também o resultado de certa organização do discurso que o constitui como verdadeiro para o receptor.

2.4 Alguns raciocínios

RACIOCÍNIO APODÍTICO – possuía o tom da verdade inquestionável. A argumentação é realizada com tal grau de fechamento que não resta ao receptor qualquer dúvida quanto a verdade do emissor.

RACIOCÍNIO IMPLÍCITO – o caráter imperativo do verbo torna indiscutível o enunciado. O receptor fica impedido de esboçar qualquer questionamento.

RACIOCÍNIO DIALÉTICO – busca quebrar a inflexibilidade do raciocínio apodítico. É um jogo de sutilezas que consiste em fazer parecer ao receptor existir uma abertura no interior do discurso

2.5 Algumas figuras

As figuras de retórica são importantes recursos para prender a atenção do receptor naqueles argumentos articulados pelo discurso.

Entre as figuras mais usadas estão a metáfora e a metonímia.

METÁFORA – é uma figura que caracteriza por denominar representações para as quais não se encontra um designativo mais adequado. Alguns processos são próprios da metáfora: Transferência ou Transposição e Associação.

METONÍMIA – utilização de um termo em lugar de outro, desde que entre eles haja uma relação de contigüidade. Ela nasce, ao contrário da metáfora, de uma relação objetiva entre o plano de base e o plano simbólico do termo.


3. SIGNO E PERSUASÃO

É da inter-relação dos signos que se produz a frase, o período e o texto.

Segundo Saussure, todo signo possui dupla face; o significado e o significante.

SIGNIFICANTE – é o aspecto concreto do signo, é a sua realidade material, ou imagem acústica constituído por um conjunto sonoro, fônico, que torna o signo auditível ou legível.

SIGNIFICANTE – é o aspecto imaterial, conceitual do signo e que nos remete a determinada representação mental evocada pelo significante.

Significante (Ste) + Significado (Sdo) = Significação (Sção).

A significação é portanto, uma espécie de produto final da relação existente entre o significado e o significante.

3.1 Arbitrariedade

O signo é sempre arbitrário, não tendo relação direta entre o Significante e o Significado.

O signo é representativo, simbólico, coisas não se confundem com palavras. As palavras não são as coisas que designam.

A arbitrariedade seria uma espécie de segundo momento, precedida pela necessidade. O homem precisa nomear e o faz arbitrariamente, criando o símbolo a que chamamos de signo ou palavra.

O modo de articulá-lo, organizá-lo, poderá determinar as direções que o discurso irá tomar, inclusive de seu maior ou menor grau de persuasão.

3.2 Signo e ideologia

A relação entre signo e ideologia ocorre através de um produto ideológico que faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo. Ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo.

Há uma série de exemplos de produtos de consumo que perderam seu sentido inicial para se transformarem em signos, passando a funcionar como veículos de transmissão de ideologias.

Até onde existe um produto de consumo e onde começa o signo é de fácil percepção. Numa palavra estamos diante da passagem do plano denotativo para o plano conotativo.

O signo nasce e se desenvolve em contato com as organizações sociais.

3.3 A troca de nomes

A alteração lexical não é apenas parte de um natural processo sinonímico, mas o desejo de dourar uma pílula cujo desgaste se tornou evidente.

Uma das preocupações do discurso persuasivo é o de provocar reações emocionais no receptor.



4 DISCURSO PERSUASIVO

DISCURSO DOMINANTE – Ele se dota de signos marcados pela superposição. São signos que colocados como expressões de “uma verdade”, querem fazer-se passar por sinônimos de “toda a verdade”.

Os discursos que enunciamos em nosso cotidiano individual, conquanto possam estar dotados de recursos composicionais, estilísticos e até muito originais.

DISCURSO AUTORIZADO – (Discurso Competente), como é sabido, vivemos em uma sociedade que premia as competências, são condenados aqueles que estão “do lado” da incompetência porque não conseguem subir na vida ou são instáveis emocionalmente.

4.1 Modalidades discursivas

Mede-se o sujeito por aquilo que produzirá, quer o nível material.

O discurso autoritário e persuasivamente desejoso de aplainar as diferenças.

Existe três grandes modos organizacionais do discurso: o polêmico, o lúdico e o autoritário.

4.2 O discurso lúdico

Residiria aqui um menor grau de persuasão, tendendo, em alguns casos, ao quase desaparecimento do imperativo e da verdade única e acabada. Lúdico significa jogo, seria, pois, um tipo discursivo marcado pelo jogo de interlocuções.

Há menos verdade de um, logo, menos desejo de convencer, neste caso o signo ganha uma dimensão múltipla, plural, de forte polissemia: os sentidos se estilhaçam, expondo as riquezas de novos sentidos.

O discurso lúdico compreenderia boa parte da produção artística, por exemplo, a música, a literatura. A própria descoberta da linguagem pela criança tem muito deste caráter de jogo com as palavras: prazer e encantamento com os mistérios dos sons.

4.3 O discurso polêmico

Cria um novo centramento na relação entre os interlocutores, aumentando o grau de persuasão.

Há uma luta, onde uma voz tenderá a derrotar a outra. Nesse caso, o grau de polissemia tende a baixar, dado existir o desejo do eu em dominar o referente. Possui um certo grau de instigação visto apresentar argumentos que podem ser contestados.

O discurso polêmico pode ser encontrado em situações muito variadas: uma discussão entre amigos, uma defesa de tese, um juízo sobre uma questão nacional, um editorial jornalístico ou uma aula.

4.4 O discurso autoritário

Essa é a transformação discursiva por excelência persuasiva. É aqui que se instalam todas as condições para o exercício de dominação pela palavra.

O receptor não pode modificar aquilo que está sendo dito. É um discurso exclusivista, que não permite mediações ou ponderações.

O discurso autoritário lembra um circunlóquio. É na forma discursiva que o poder mais escancara suas formas de dominação. O autoritário fixa-se num jogo parafrásico, ou seja, repete uma fala já sacramentada pela instituição: o mundo no diálogo perdeu a guerra para o mundo do monólogo.

A persuasão ganhou força de mito. Afinal a propaganda é ou não é a alma do negócio?

O discurso autoritário é encontrável, de forma mais ou menos mascarada, na família: o pai que manda, sob a máscara do conselho; na igreja: o padre que ameaça sob a guarda de Deus; no quartel: o grito que visa a preservar a ordem e a hierarquia; na comunicação de massa: o chamado publicitário que tem por objetivo racionalizar o consumo; há, ainda, longos etecéteras a serem percorridos.

4.5 Análise do Discurso

Deve ser considerada em função de quatro elementos: distância, modalização, tensão, transparência.

1- DISTÂNCIA (Atitude do sujeito falante face ao seu enunciado);

2- MODALIZAÇÃO (o modo como o sujeito constrói o enunciado);

3- TENSÃO (relação que se estabelece entre o emissor e o receptor);

4- TRANSPARÊNCIA (maior ou menor grau de transparência, ou opacidade, do enunciado). A mensagem é mais clara afirmada.


5 CONCLUSÃO

Concluímos este trabalho apresentando a persuasão que está contido em um texto publicitário: “Nove entre dez estrelas do cinema usam Lux”.

O SLOGAN - está formados de sete palavras gramaticais;

RACIOCÍNIO - é o mais formal possível. Trata-se de um silogismo (forma de raciocínio que passa de 3 fases: premissa maior, premissa menor e conclusão)

- Premissa maior: As mais belas mulheres (do cinema) usam Lux.

- Premissa menor: Você é (ou quer ser) uma bela mulher.

- Conclusão: Você deve usar Lux (assim será tão bela como as formosas atrizes.

O slogan se abre para duas realidades:

EXCLUSÃO – ninguém deseja ser socialmente excluído.

SÍMBOLO – O convite a beleza soa como uma obrigação


6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 15 ed. São Paulo: Ática, 2000.

Violência na Escola

A real causa da violência escolar, podemos atribuir à diversos fatores como: ignorância, insegurança, pobreza material, carência cultural, desigualdade social, regime capitalista.

A falta de diálogo entre os integrantes da unidade escolar e a não interação da família e da comunidade implica na construção de um ambiente pouco apropriado às aulas, acentuando a degradação do ensino no país, que, apesar de universalizado ainda não garante uma qualidade para todos, utilizando metodologias inadequadas, além da carência de professores qualificados.

Com o aumento de responsabilidades atribuídas ao professor, o mesmo, perde o estímulo para o trabalho, se revolta com as condições imposta à ele.

O “clima de violência”, além de influir na qualidade de ensino no desempenho profissional do corpo docente, é desfavorável e contribui para o esgaçarmento das relações entre professores e alunos.

Numa pesquisa realizada em 6 capitais brasileiras sobre “Vitimização nas Escolas”, indicam que 83,4% dos alunos dizem que existe violência em sua escola, 38,2% dizem que já foram furtados pelo menos uma vez e 4,8% dizem que já apanharam na escola.
Já na pesquisa da Unesco, “Violências nas Escolas”, realizada em 13 capitais e no Distrito Federal, demonstram que as situações de violência repercutem sobre a aprendizagem e a qualidade de ensino tanto para alunos como para professores, muitos deles deixam de ir à escola por causa da violência.

No que diz respeito ao clima escolar:

Mesmo com tantos fatores que gera a violência, não podemos dizer a verdadeira causa sem conhecer e compreender o interior do indivíduo, onde se manifestam valores positivos e negativos.
É necessário sensibilizar à Direção, os professores, alunos e pais à se reunirem um vez por semana para discutir, fazer planejamento, criar soluções que contribuam para a reversão da violência.



BIBLIOGRAFIA

Informações sobre o observatório de violência nas escolas-brasil. Disponível em: http://observatorio.ucb.unesco.org.com.br. Acesso em 10 mai 2005.

Friday, June 02, 2006

Noite do Beijo



"Noite do Beijo"




"Mais beijo, mais pão, abaixo a repressão!". Foi repetindo essas palavras que no dia 7 de fevereiro de 1981 uma multidão em passeata protestava contra a portaria baixada pelo então juiz interino de menores, Manuel Morales, proibindo o beijo em locais públicos.


Manifestação na praça central

"Mais beijo, mais pão, abaixo a repressão!". Foi repetindo essas palavras que no dia 7 de fevereiro de 1981 uma multidão em passeata protestava contra a portaria baixada pelo então juiz interino de menores, Manuel Morales, proibindo o beijo em locais públicos. Por causa dessa portaria, Sorocaba ficou bem conhecida em diversos estados brasileiros, inclusive em outros países, como motivo de piada. Essa história toda também teve seu lado positivo: "o movimento ajudou a mudar a mentalidade provinciana da cidade", avalia o professor e jornalista Júlio César Gonçalves. Poucos sabem, mas foi Júlio quem deu a idéia de fazer uma manifestação, que acabou depois sendo motivo de polêmica na cidade: a comentada "Noite do Beijo". Esse assunto é o tema da palestra que o jornalista e um dos participantes do movimento Davi Deamatis fará neste sábado, a partir das 9h, na Academia Sorocabana de Letras, ocasião que falará inclusive sobre o contexto político pelo qual o Brasil passava na época da manifestação.Como tudo aconteceuNo dia 28 de janeiro de 1981, o juiz de menores Manuel Morales - que era interino - tornou pública a portaria nº 005/81 visando reprimir a imoralidade e defender a preservação dos bons costumes em Sorocaba. Essa portaria foi inclusive publicada pelo jornal Cruzeiro do Sul no dia 31 de janeiro de 1981, e nela consta que em sua decisão o juiz considerou o grande número de reclamações e o empenho das autoridades civis, militares e eclesiásticas no resguardo da moralidade.Na época o juiz disse que para ele, um beijo escandaloso chocava mais que uma mulher na praia sem a parte de cima do biquíni. O juiz atribuiu esses costumes de beijar em público à TV, mas "as pessoas com mais cultura não se influenciam por essas coisas".O professor e jornalista Júlio César Gonçalvez conta que trabalhava na época para o jornal "O Globo" e como cidadão pensou que deveria ser feita alguma ação contra a idéia absurda de proibir o beijo e comentou isso com o estudante Carlos Alberto Baptistella, que morava em sua casa na época. "Fui eu quem deu a idéia e isso eu não posso negar, mas não tive participação ativa na manifestação, apenas fui para cobrir o evento, como repórter".Carlos, juntamente com seu irmão João e outros estudantes pertencentes à União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UME) passaram então a organizar uma manifestação que pretendia ser pacífica e não era apenas para protestar contra a portaria que proibia o beijo em público mas também para reivindicar liberdade e educação sexual nas escolas. "Era uma luta contra a repressão. Uma de nossas bandeiras dizia que imoral é a fome. O país vivia um momento político difícil, com bancas de jornais sendo incendiadas por venderem jornais alternativos, que eram considerados subversivos, então nos organizamos para protestar contra tudo isso e nos surpreendemos com o número de pessoas que aderiram à idéia".Carlos conta que das 300 pessoas esperadas, calcula-se que foram para a Praça Cel. Fernando Prestes cerca de 3 mil, entre eles sindicalistas, estudantes e famílias inteiras. "Tínhamos programado uma manifestação pacífica na praça central, com apresentação de teatro, poesia e um discurso em prol da liberdade, mas o som foi cortado e então precisamos improvisar uma passeata, que desceu até a Praça do Canhão e terminou ali, o que houve depois não foi organizado pelos estudantes e transformou-se em tumulto".Por conta desse tumulto, quando inclusive foi depredado um carro da polícia, Carlos conta que queriam processá-lo e enquadrá-lo nos artigos 14 e 36 da Lei de Segurança Nacional, que falam sobre incitação à desobediência coletiva e indispor o povo contra as autoridades constituídas. "Também fui prejudicado no trabalho, perdendo três empregos seguidos. Por conta disso tive de mudar para São Paulo", conta.Passados 25 anos da manifestação, Carlos ainda guarda consigo alguns questionamentos: "O que aconteceu com a UME em Sorocaba? Quem tem o poder da voz, políticos e jornalistas? E a educação sexual nas escolas? Por que será que ainda existe um número alto de grávidas adolescentes? E aí? Conseguimos alavancar nossos sonhos ou não?", são as perguntas que ainda ficam para ele.A Academia Sorocabana de Letras fica na rua Comendador Oeterer, 737. Entrada gratuita. (Por Daniela Jacinto)

O grau de dificuldades no reconhecimento das classes gramaticais no ensino de língua inglesa no ensino médio

Trabalho de pesquisa apresentado para a disciplina de Pesquisa e Prática Educacional V, do curso de Letras das Faculdades Integradas de Botucatu, UNIFAC.



História do ensino de línguas

Desde o século XVIII até hoje na maioria das escolas de 2° grau a metodologia predominante do ensino de línguas é tradução e gramática, com a finalidade de se estudar sua literatura e traduzir.

A partir dos anos 70 e 80, Piaget e Vygostsky já haviam proposto que conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados culturalmente.

Noam Chomsky revolucionou a lingüística nos anos 60 afirmando que a língua é uma habilidade criativa e não memorizada, e que não são regras da gramática que determinam o que é certo e errado, mas sim o desempenho de um representante nativo da língua e da cultura que determina o que é aceitável ou inaceitável.

O aprendizado de um idioma se dá pela assimilação subconsciente de estruturas gramaticais e vocabulário em contexto social.

O ensino de línguas eficaz é aquele que explora a habilidade do instrutor em criar situações de comunicação autêntica, naturalmente voltadas aos interesses e necessidades de cada grupo e de cada aluno.


Interferência, interlíngua e fossilização

A interlíngua se caracteriza pela interferência da língua materna, essa ocorrência e a persistência de interlíngua é significamente maior em adultos do que em crianças; quem aprende uma segunda língua tem que executar seqüências de operações mentais e motoras novas e precisa evitar os velhos hábitos da língua materna, este problema é muito menor em crianças por não terem hábitos lingüísticos tão enraizados.

Se o professor não tiver um nível de capacidade equivalente à de um nativo, o aprendiz assimilará desvios de que caracterizam a interlíngua, causando uma tendência maior a fossilização dos mesmos.

O aluno precisa de um ambiente autêntico de língua e cultura estrangeira para uma assimilação mais pura.

O professor tem que ter domínio equivalente ao de língua materna, principalmente quando os aprendizes são crianças e adolescentes.

Quanto maior o grupo, menor a exposição ao modelo correto de performance do professor e maior é a exposição a interlíngua dos demais participantes.

Os programas intensivos preservam melhor o potencial do aluno, sendo que, melhor é a imersão total proporcionada pelos programas de inglês no exterior.

Alunos extrovertidos, que buscam um canal de comunicação mesmo sem disporem de habilidade necessária, estarão mais vulneráveis à formação de interlíngua e a fossilização de desvios.

Métodos de ensino aprendizado que não incluem contato freqüente com modelos de performance autênticos, em situações reais de interação humana, são de validade questionável.



O inglês como língua internacional

Se compararmos a importância de se falar uma língua estrangeira há 50 anos atrás com a necessidade hoje da pessoa ser bilíngüe, pode-se facilmente entender a ameaça que o monolinguismo representa e imaginar o problema em que se constituirá quando nossos filhos tornarem-se adultos.



O que significa “aprender inglês”?

No 2º grau aprendemos inglês de maneira que conhecemos sua estrutura, formamos frases interrogativas e negativas, decoramos verbos irregulares, vocabulários e transformamos frases para a voz passiva. Neste caso, armazenamos informações e conhecimentos a respeito da estrutura gramatical da língua na sua forma escrita predominante.

Quando aprendemos inglês memorizando frases e expressões de forma mecânica e repetitiva, terminamos o Livro X ou temos um certificado do Cursinho Z. Neste caso o aluno dificilmente alcançará espontaneidade na comunicação.

Se aprendermos inglês quando falamos com naturalidade, sentimos à vontade na presença de estrangeiros, acompanhamos filmes e noticiários, temos acesso à informações da internet, argumentamos e defendemos nossos pontos de vista, compramos e vendemos em inglês, construímos laços de amizades ou namoramos em inglês. Neste caso desenvolvemos a habilidade funcional, ou seja a assimilação natural.



The good esl student: o bom aprendiz de inglês

A atitude do aluno e o ambiente de língua e cultura estrangeira autêntico são importantes para um aprendizado de inglês.

O bom aluno deve:

- Saber que os ouvidos são mais importantes do que os olhos no aprendizado;
- Falar unicamente inglês na sala de aula e com todas as pessoas a sua volta;

Deve ser autoconfiante e se esforçar para comunicar uma idéia sem receios de cometer erros e atentar à correção do professor;



Tradução mental

Toda pessoa monolíngue ao se depor com uma língua estrangeira tende a apelar para traduções mentais, o que é uma atitude natural.

O aprendizado de uma língua estrangeira como inglês consiste essencialmente na eliminação da interferência da língua materna.

O inglês que apresenta um nível de contraste muito mais preciso em relação ao português, seu aprendizado implica em reaprender a estruturar nosso pensamento, dessa vez nas formas do inglês. Seria como reaprender a pensar.

O método da tradução prematura, assim como aplicado no ensino médio é contraproducente.

Ensinar a traduzir rapidamente poderia ser comparado ao ato de ensinar a andar de bicicleta em bicicleta de três rodas.

Não há cérebro humano que consiga processar duas línguas simultaneamente, por isso é que o bom aprendizado de inglês, desde o 1º dia de aula, não inclui a língua materna.

Elementos da Poesia

Elementos da Poesia

Estrofe

Parte de um poema consistindo de uma série de linhas ou versos dispostos em uma certa configuração regular, definidos por metrificação e rima que se repetem periodicamente. Uma estrofe tem geralmente um "pattern" regular de número de linhas, metrificação e rima, constituindo-se em uma seção da poesia. No entanto, uma estrofe irregular não é incomum.
Na corrente modernista encontramos estrofes livres, onde a preocupação maior é com o conteúdo dando-se menor importância à metrificação, à rima ou a qualquer outra configuração regular.
As estrofes podem ser classificadas como:
1. monóstico
2. dístico
3. terceto
4. quarteto (ou quadra)
5. quintilha
6. sextilha
7. sétima
8. oitava
9. nona
10. décima
Todas as estrofes que tenham mais de dez versos recebem a denominação de Irregulares.


Ritmo

Considerado por muitos como sendo a mística da palavra, o ritmo é uma alternação uniforme de sílabas tônicas e não tônicas em cada verso de uma composição poética.
O ritmo de um poema ainda tem muito a ver com a metrificação e a correspondência sonora provocada pela rima. Todo esse conjunto de elementos determina o ritmo da obra.
No verso livre a sonoridade rítmica obedece a um padrão próprio, não sendo governado por regras externas derivadas da alternação uniforme de sílabas tônicas ou de metrificação e rima, a essa modalidade dá-se o nome de Arritmia.


Elisão

A elisão é a supressão (na escrita ou na pronúncia) na vogal final de uma palavra e antes da vogal inicial da palavra seguinte. É usado para adequar o número de sílabas poéticas dentro de um verso.
Ex. Copo-d’água
Pau-d’alho


Metrificação – Escansão

Metrificação é a técnica para se medir um verso. Em Português, ela se apóia na tonicidade das palavras, a escansão; contagem dos sons dos versos. É importante observar que as sílabas métricas diferem das sílabas gramaticais, observando-se as seguintes regras.

1. Contagem das sílabas métricas:

a) só contaremos até a última sílaba tônica de um verso.

1 2 3
Tal / a / chu / va

1 2 3
Trans / pa / re / ce

1 2 3
Quan / do / des / ce

(va/ce/ce - são as sílabas át