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Friday, June 02, 2006

Noite do Beijo



"Noite do Beijo"




"Mais beijo, mais pão, abaixo a repressão!". Foi repetindo essas palavras que no dia 7 de fevereiro de 1981 uma multidão em passeata protestava contra a portaria baixada pelo então juiz interino de menores, Manuel Morales, proibindo o beijo em locais públicos.


Manifestação na praça central

"Mais beijo, mais pão, abaixo a repressão!". Foi repetindo essas palavras que no dia 7 de fevereiro de 1981 uma multidão em passeata protestava contra a portaria baixada pelo então juiz interino de menores, Manuel Morales, proibindo o beijo em locais públicos. Por causa dessa portaria, Sorocaba ficou bem conhecida em diversos estados brasileiros, inclusive em outros países, como motivo de piada. Essa história toda também teve seu lado positivo: "o movimento ajudou a mudar a mentalidade provinciana da cidade", avalia o professor e jornalista Júlio César Gonçalves. Poucos sabem, mas foi Júlio quem deu a idéia de fazer uma manifestação, que acabou depois sendo motivo de polêmica na cidade: a comentada "Noite do Beijo". Esse assunto é o tema da palestra que o jornalista e um dos participantes do movimento Davi Deamatis fará neste sábado, a partir das 9h, na Academia Sorocabana de Letras, ocasião que falará inclusive sobre o contexto político pelo qual o Brasil passava na época da manifestação.Como tudo aconteceuNo dia 28 de janeiro de 1981, o juiz de menores Manuel Morales - que era interino - tornou pública a portaria nº 005/81 visando reprimir a imoralidade e defender a preservação dos bons costumes em Sorocaba. Essa portaria foi inclusive publicada pelo jornal Cruzeiro do Sul no dia 31 de janeiro de 1981, e nela consta que em sua decisão o juiz considerou o grande número de reclamações e o empenho das autoridades civis, militares e eclesiásticas no resguardo da moralidade.Na época o juiz disse que para ele, um beijo escandaloso chocava mais que uma mulher na praia sem a parte de cima do biquíni. O juiz atribuiu esses costumes de beijar em público à TV, mas "as pessoas com mais cultura não se influenciam por essas coisas".O professor e jornalista Júlio César Gonçalvez conta que trabalhava na época para o jornal "O Globo" e como cidadão pensou que deveria ser feita alguma ação contra a idéia absurda de proibir o beijo e comentou isso com o estudante Carlos Alberto Baptistella, que morava em sua casa na época. "Fui eu quem deu a idéia e isso eu não posso negar, mas não tive participação ativa na manifestação, apenas fui para cobrir o evento, como repórter".Carlos, juntamente com seu irmão João e outros estudantes pertencentes à União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UME) passaram então a organizar uma manifestação que pretendia ser pacífica e não era apenas para protestar contra a portaria que proibia o beijo em público mas também para reivindicar liberdade e educação sexual nas escolas. "Era uma luta contra a repressão. Uma de nossas bandeiras dizia que imoral é a fome. O país vivia um momento político difícil, com bancas de jornais sendo incendiadas por venderem jornais alternativos, que eram considerados subversivos, então nos organizamos para protestar contra tudo isso e nos surpreendemos com o número de pessoas que aderiram à idéia".Carlos conta que das 300 pessoas esperadas, calcula-se que foram para a Praça Cel. Fernando Prestes cerca de 3 mil, entre eles sindicalistas, estudantes e famílias inteiras. "Tínhamos programado uma manifestação pacífica na praça central, com apresentação de teatro, poesia e um discurso em prol da liberdade, mas o som foi cortado e então precisamos improvisar uma passeata, que desceu até a Praça do Canhão e terminou ali, o que houve depois não foi organizado pelos estudantes e transformou-se em tumulto".Por conta desse tumulto, quando inclusive foi depredado um carro da polícia, Carlos conta que queriam processá-lo e enquadrá-lo nos artigos 14 e 36 da Lei de Segurança Nacional, que falam sobre incitação à desobediência coletiva e indispor o povo contra as autoridades constituídas. "Também fui prejudicado no trabalho, perdendo três empregos seguidos. Por conta disso tive de mudar para São Paulo", conta.Passados 25 anos da manifestação, Carlos ainda guarda consigo alguns questionamentos: "O que aconteceu com a UME em Sorocaba? Quem tem o poder da voz, políticos e jornalistas? E a educação sexual nas escolas? Por que será que ainda existe um número alto de grávidas adolescentes? E aí? Conseguimos alavancar nossos sonhos ou não?", são as perguntas que ainda ficam para ele.A Academia Sorocabana de Letras fica na rua Comendador Oeterer, 737. Entrada gratuita. (Por Daniela Jacinto)

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