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Monday, July 31, 2006

Drogas na Escola

DROGAS NA ESCOLA

A escola precisa saber lidar com os novos valores e novas idéias que surgem com as constantes transformações sociais para que ela possa propor ações concretas nas resoluções de conflitos que se dão em seu ambiente.

A função da escola é ser um instrumento para o exercício da cidadania, um espaço público para discussões, formações de sujeitos, a partir da relação entre alunos e professores.

Tempos recentes houve a expansão do ensino e o ingresso de diferentes educandos e camadas sociais no ambiente escolar, surgindo o processo de massificação que fez com que essas desigualdades sociais entrassem na ordem do dia.

Quando surgem problemas externos na escola devido à sua gestão e do modelo de escola universal e gratuita, reflete a sociedade, os problemas exteriores à ela interferindo no seu cotidiano, se tornando um objeto de críticas e acusações, dando espaço ao lugar das drogas e a melhor solução não é a expulsão e transferência de alunos, pois a questão das drogas é um problema social e não deve ser tratada de forma individual e particular.

A droga pode ser uma doença contagiosa que se expande principalmente em bairros de baixa renda, e para lidarmos com esta questão é necessário compreendermos a crise social e situações diversas que dão origem ao consumo destas drogas.

A inserção de drogas dentro da Unidade Escolar inicia por causa da presença e o ponto de vendas ao redor dela que são presenciados através de diretores, professores e pelos próprios alunos.

O tráfico nas imediações da escola facilita a compra de drogas a qualquer momento pelos alunos, há outros pontos ao redor da escola que contribuem para a presença interna das drogas como bares e boca-de-fumo.

Os gestores estão sempre alerta quanto à presença destes traficantes e de qualquer sinal visível ou perceptível ao redor das escolas.

A escola, a família e a sociedade em geral não devem medir esforços para o desenvolvimento de ações voltadas para minimizar a influência que as drogas podem exercer sobre os jovens.

Dentro da escola, os banheiros são os pontos mais freqüentados para o consumo de drogas, e locais públicos como a própria sala de aula. Algumas escolas tomaram como prevenção a utilização de câmaras de vídeo, uniformes de alunos e controle de entrada e saída de alunos e a expulsão dos mesmos que não apresentaram resultados favoráveis.

Cabe à escola estimular o diálogo entre os pais e os jovens, inclusive sobre drogas, fazer com que os alunos possam debater sobre suas conseqüências futuras e buscar melhores alternativas para dificultar a presença destas drogas dentro do ambiente escolar.

Ao meu ponto de vista os métodos preventivos hoje nas escolas não são eficazes pois o uso de drogas é contínuo. Cabe ressaltar as mudanças desses métodos, começando por incentivo aos professores à abordagem dessa problemática, estimulando aos alunos a pesquisarem e refletirem sobre o assunto. A escola deve ter programas de âmbitos sociais que comportem atividades culturais e profissionalizantes, além de incentivar o desenvolvimento da criatividade e estimulo a auto-estima .

Dando ênfase a importância de estabelecer nexo entre escola e família, envolvendo pais e responsáveis no debate sobre programa de prevenção .

Concluindo lidar com drogas significa lidar com processo sociais amplos, deixando bem claro que este problema das drogas, não é só o papel da escola, mas sim de todos trabalhando em conjunto nessa luta contra as drogas.



RFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ABRAMOVAY, C. M. G. Drogas nas escolas. Brasília: Unesco. Rede Pitágoras, 2005. p. 89-101.

Versificação

VERSIFICAÇÃO
É o conjunto de normas que ensinam a fazer poemas belos e perfeitos segundo o conceito dos antigos gregos. Para eles, beleza e perfeição são sinônimos de trabalhoso, detalhado, complexo e tudo aquilo que segue a um modelo, a um conjunto de normas. É, assim, a técnica ou a arte de fazer versos.

Verso é cada uma das linhas que compõem um poema, possui número determinado de sílabas poéticas (métrica), agradável movimento rítmico (ritmo ) e musicalidade (rima).

O conjunto de versos compõe uma estrofe, que pode ser:

1. Monóstico: estrofe com um verso;
2. Dístico: “ “ dois versos;
3. Terceto: “ “ três “
4. Quarteto: “ quatro versos; (ou quadra)
5. Quintilha: “ “ cinco “
6. Sextilha: “ “ seis “
7. Septilha: “ “ sete “
8. Oitava: “ “ oito “
9. Nona: “ “ nove “
10. Décima : “ “ dez “
Mais de dez versos: estrofe Irregular.

O verso que se repete no início de todas as estrofes de um poema chama-se ANTECANTO e o que se repete no final, BORDÃO. O conjunto de versos repetidos no decorrer do poema chama-se ESTRIBILHO ou REFRÃO.

Métrica é a medida ou quantidade de sílabas que um verso possui. A divisão e a contagem das sílabas métricas de um verso são chamadas de ESCANSÃO, que não é feita da mesma forma que a divisão e contagem de sílabas normais, pois, segundo a Versificação:

1) Separam-se e contam-se as sílabas de um verso até a última sílaba tônica desse verso.


Ex: Estou deitado sobre minha mala
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

2) Quando duas ou mais vogais se encontram no fim de uma palavra e começo de outra, e podem ser pronunciadas simultaneamente, unem-se numa só sílaba métrica. Quando essas vogais são diferentes, o processo chama-se elisão e quando são vogais idênticas, crase.

Ex: Ela+estavasó (Elisão) e foge+egrita (Crase)
1 2 3 4 5 1 2 3

3) Geralmente, como acontece na divisão silábica normal, os elementos que formam um ditongo não podem ser separados e os elementos que formam um hiato devem ser separados na escansão de um verso. No entanto, se o poeta precisar separar os elementos de um ditongo (diérese) ou unir os de um hiato (sinérese), ele tem LICENÇAPOÉTICA para que sua métrica dê certo. O mesmo acontece se ele precisar contar também até a última sílaba átona do verso. Outras LICENÇAS POÉTICAS:
. ectlipse: supressão de um fonema nasal final , para possibilitar a crase ou a elisão.

Ex: E nós com esperança = Enós co’esperança
1 2 3 4 5
. aférese: Supressão da sílaba ou fonema inicial.

Ex: “Estamos em pleno mar” = Stamosemplenomar
1 2 3 4 5 6

Quanto à Métrica, um verso pode ser:

1. monossílabo: verso com apenas uma sílaba;
2. dissílabo: verso com duas sílabas;
3. trissílabo: “ “ três “
4. tetrassílabo: “ “ quatro “
5. pentassílabo: “ “ cinco “ , também chamado REDONDILHA MENOR
6. hexassílabo: “ “ seis “
7. heptassílabo: “ “ sete “ , também chamado REDONDILHA MAIOR
8. octossílabo: “ “ oito “
9. eneassílabo: “ “ nove “
10. decassílabo: “ “ dez “ , também chamado de HERóICO
11. hendecassílabo: “ “ onze “
12. dodecassílabo: “ “ doze “, também chamado de ALEXANDRINO

Ritmo é o resultado da regular sucessão de sílabas tônicas e átonas de um verso. Para os gregos, ele é um elemento melódico tão essencial para o poema quanto para a Música.

O ritmo é binário ascendente quando há um som fraco seguido de um forte (fraco/FORTE): “Anuvemguarda+opranto” (Alphonsus de Guimaraens)

O ritmo é binário descendente quando há um som forte seguido de um fraco (FORTE/fraco): “Tenhotantapena “ (Fernando Pessoa)


O ritmo é ternário ascendente quando há dois sons fracos seguidos de um forte (fraco/fraco/FORTE): “Tuchoraste+empresemça damorte” (G. Dias)


O ritmo é ternário descendente quando há um som forte seguido de dois sons fracos(FORTE/fraco/fraco):
“Fátimadizquenãotomanempílula.”(D.Pignatári)

Os versos que não seguem as normas da Versificação quando à métrica e/ou ao ritmo são chamados de VERSOS LIVRES.

Som ou RIMA também é para os antigos um elemento essencial para que um poema seja uma POESIA. A rima é a identidade e/ou semelhança sonora existente entre a palavra final de um verso com a palavra final de outro verso na estrofe. Foneticamente, uma rima pode ser perfeita - se houver identidade entre as terminações das palavras que rimam (neve/leve) - ou imperfeita, se houver apenas semelhança (estrela/vela).

Morfologicamente, a rima é pobre quando as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical (coração/oração), e rica quando as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais diferentes (arde/covarde).

Quanto à posição na estrofe, as rimas podem ser classificadas como:

a) emparelhadas ou paralelas (aabb) b) cruzadas ou alternadas (abab)
“Vagueio campos noturnos a “Se o casamento durasse a
Muros soturnos a Semanas, meses fatais b
Paredes de solidão b Talvez eu me balançasse a
Sufocam minha canção.” b Mas toda a vida... é demais! “ b
(Ferreira Gullar) ( Afonso Celso)

c) opostas, intercaladas ou interpoladas (abba)
“Não sei quem seja o autor a
Desta sentença de peso b
O beijo é um fósforo aceso b
Na palha seca do amor!” a (B. Tigre)

d) continuadas: consiste na mesma rima por todo o poema.

e) misturadas: são as rimas que não seguem esquematização regular.

f) VERSOS BRANCOS: são os do poema sem rima.

Fazem parte do estudo do som ou rimas as FIGURAS DE HARMONIA OU DE EFEITO SONORO: aliteração, assonância, onomatopéia, paronomásia, parequema e o eco ou rima coroada.

POEMAS DE FORMA FIXA

Alguns poemas apresentam forma fixa, o que já indica a preocupação formal do poeta em relação à sua obra e, assim, que ele segue à risca as normas da Versificação no momento da sua elaboração. São eles:
. Soneto: poema formado por dois quartetos e dois tercetos, normalmente composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico;
. Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra;
. Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha;
. Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras;
. Vilanela: poema formado por uma quadra e vários tercetos.

Assim, para os clássicos, a obediência às normas ou técnicas aqui expostas é um dos itens mais importantes na classificação de um POEMA como POESIA. Rosa Beloto

Gêneros Literários do Poema

Os estudos dos Gêneros Literários aparecem pela primeira vez na obra “A República”, de Platão como um tipo de classificação da obra literária tendo em vista principalmente o seu conteúdo, sua temática. O discípulo mais famoso de Platão, Aristóteles, retoma o estudo dos gêneros e suas modalidades em sua obra-prima “A Poética”, sob o ponto de vista dos tópicos mais importantes da obra: a MÍMESE e a VEROSSIMILHANÇA. Devemos lembrar que, para os Antigos, Poesia é texto em versos, com rima, métrica e ritmo definidos, ou seja, é o Poema belo e perfeito; em suma: é o poema que obedece às normas da Versificação.

Para Aristóteles, a POESIA é Mímese, ou seja, é uma das várias formas de IMITAÇÃO (= DE REPRESENTAÇÃO) da realidade criadas pelo homem. Já no início da sua obra, Aristóteles discrimina como imitações poéticas:
1) as imitações dramáticas: tragédia e comédia;
2) a epopéia, imitação narrativa;
3) o ditirambo (poemas em homenagem a Baco), a citarística (poemas acompanhados por instrumentos de corda) e a aulética (poemas acompanhados pela flauta), exemplos de imitações poéticas que hoje correspondem ao gênero lírico.

Assim, a obra de Aristóteles já apresenta os três tipos de Gênero a que um poema pode pertencer: o Lírico, e Épico e o Dramático.

1. Gênero Lírico

Pertence ao Gênero Lírico o poema que consiste numa forma de expressão dos sentimentos, das emoções, dos desejos, dos conhecimentos, enfim, da visão de mundo de alguém: do EU que fala no poema. Emissor e personagem única desse tipo de mensagem, o “EU-LÍRICO” é o tema nela tratado (mensagem centrada no emissor): normalmente, portanto, o poema lírico é elaborado com uma linguagem emotiva - SUBJETIVA - em que predominam as palavras e pontuações de 1a. pessoa. Os tipos de poemas líricos mais comuns são:

1.1 Ode ou Hino: é o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à Pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O Hino é uma Ode com acompanhamento musical;

1.2 Elegia: é o poema lírico em que o emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É todo poema melancólico;

1.3 Idílio ou Écloga: é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à Natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (=pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara);

1.4 Epitalâmio: é o poema lírico feito em homenagem às núpcias de alguém;

1.5 Sátira: é o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico (“elogio às avessas”).

Alguns autores consideram modalidades líricas:
- o ACALANTO: ou canção de ninar;
- o ACRÓSTICO: (akros = extremidade; stikos = linha), composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase;
- a BALADA: uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão vocal que se destinam à dança;
- a BARCAROLA: é o canto dos gondoleiros italianos; consiste num lamento com o mar, acusando sempre referência a caminhos por água (= cantigas de amigo = elegia);
- a CANÇÃO: poema oral com acompanhamento musical (= CANTIGA);
- a CANTATA: pequena ópera, gira sempre em torno de uma ação solene ou galante (sensual);
- o CANTO REAL: tipo de balada de forma fixa, composta por 5 estrofes com 11 versos e uma estrofe com cinco versos. Comum no Parnasianismo;
- o DITIRAMBO: canto em louvor a Baco que deu origem à tragédia;
- o GAZAL ou GAZEL: poesia amorosa dos persas e árabes; odes do Oriente Médio;
- a GLOZA: ver VILANCETE;
- o HAICAI: expressão japonesa que significa “versos cômicos” (=sátira). É o poema japonês formado de três versos que somam 17 sílabas assim distribuídas: 1o. verso=5 sílabas; 2O. verso = 7 sílabas; 3O. verso 5 sílabas;
- a LIRA= idílio;
- o MADRIGAL: idílio amoroso que consiste num galanteio que o eu-lírico faz a uma pastora(sua amante);
- o NOTURNO: elegia, poema melancólico em que o símbolo da tristeza é a noite;
- a PARLENDA: composição ritmada destinada a certos jogos infantis (cadê o gato? Foi atrás do rato/ Cadê o rato ? Foi atrás da aranha...)
- o RONDÓ: é o poema lírico que tem o mesmo estribilho se repetindo por todo o texto;
- a TROVA: é o mesmo que cantiga ou canção;
- o VILANCETE: são as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíricas, portanto.

Como se pode observar, essas outras modalidades líricas nada mais são do que variações dos cinco tipos principais.

2. Gênero Épico ou Narrativo

Pertence ao gênero épico, o poema que conta uma história, um episódio: por isso, ele é também chamado de NARRATIVO. Há três tipos de poemas narrativos:

2.1 Epopéia: é o poema épico que narra um grande feito histórico de um povo, de um país, destacando os seus heróis. Além dos textos históricos, encaixam-se nessa classificação os textos bíblicos. A epopéia clássica, das quais são exemplos a “Ilíada” e a “Odisséia”, ambas de Homero; “Os Lusíadas”, de Camões; “A Divina Comédia”, de Dante, etc, tem as seguintes partes:
1a. Proposição: apresentação do tema e do herói;
2a. Invocação”: evocação das musas inspiradoras para que o episódio proposto seja contado com
engenho e arte;
3a. Dedicatória: a epopéia é dedicada a alguém importante;
4a. Narração: o tema proposto é contado;
5a. Epílogo: é a conclusão da narrativa e as considerações finais.
A epopéia moderna não tem uma divisão pré-estipulada.
São exemplos de epopéias brasileiras: “ Caramuru” , de Santa Rita Durão; “ Uraguai” , de Basílio da Gama; “ Vila Rica” , de Cláudio Manuel da Costa , dentre outras.

2.2 Romance ou Xácara: é o poema narrativo que conta as façanhas de um herói, mas principalmente uma história de amor vivida por ele e uma mulher “proibida”. Apesar dos obstáculos que o separa, o casal vive sua paixão proibida, física, adúltera, pecaminosa e, por isso é punido no final. É o tipo de narrativa mais comum na Idade Média. Exemplo: “Tristão e Isolda”.

2.3 Fábula: é o poema narrativo em que as personagens são seres não humanos personificados. Com o objetivo de criticar os homens, esse poema sempre encerra uma lição de moral.

Há, ainda:
- o Lai: poema narrativo curto formado por 12 estrofes com versos octossílabos, referentes às lendas medievais, mais precisamente àquelas do ciclo arturiano;
- a Canção de Gesta: narrativa acompanhada de música, conta a vida de um herói ou de um santo; elas deram origem às novelas de cavalaria medievais;
- o Poema Herói-Cômico: poema narrativo em estilo solene que encerra um assunto banal e ridículo. Ex: “A Estante do Coro”, onde os 6 cantos do poema giram em torno da dúvida de dois homens a respeito de onde deveria ser colocada uma estante de um coro;
- o Poema Burlesco: é um poema narrativo que, ao contrário do poema herói-cômico, trata de um assunto sério usando um estilo jocoso. Ex: “Orlando Furioso”

3. Gênero Dramático

Pertence ao gênero dramático toda e qualquer peça teatral em versos. O texto dramático é o único elaborado com o fito de ser representado num palco e, por isso, é o único que contém INSTRUÇÕES PARA O MOMENTO DA REPRESENTAÇÃO. Quem melhor caracteriza esse gênero é Aristóteles, que em sua “Poética” estuda a tragédia em dezessete capítulos (cap. VI ao XXII) como sendo o protótipo do drama e a arte mimética por excelência.

Na Antigüidade, dois eram os tipos de poemas dramáticos existentes: a tragédia e a comédia, artes miméticas, pois a primeira é a imitação ( a representação) de homens melhores e a segunda, de homens piores do que os que existem na realidade (objetos da imitação). No modo dramático de imitação, as próprias pessoas imitadas (personagens) são autoras da representação e desconhecem seu destino; é por isso que o conjunto das ações feitas por essas personagens no decorrer da peça teatral recebe o nome de DRAMA. Para Aristóteles, o fato da tragédia imitar homens superiores (melhores do que os que existem na realidade) e provocar no espectador reações de dor e violência (para que o espectador também fique “mais nobre”, “melhor”) que o levam a ter medo e piedade ( a docilidade, a passividade, a conformidade) necessários à vida disciplinada em sociedade, é que faz da tragédia a mais perfeita espécie poética de imitação. A comédia, ao contrário, é tida como a pior das espécies já que provoca no espectador o riso, e, com ele, o destemor, a aventura, a rebeldia: afinal, nelas são representados seres humanos piores do que aqueles que existem na realidade. A comédia surgiu na Sicília (Itália) com as obras de Epicarmo e Fórmis.

Embora tenha surgido na Grécia através da obra de Ésquilo, Aristóteles atribui o mérito de ser precursor da tragédia ao poeta Homero, autor das epopéias “Ilíada” e “Odisséia”, já que em sua obra narrativa a personagem protagonista é sempre um herói, ou seja, é sempre um homem superior, quando o normal na epopéia seria imitar homens comuns, homens iguais aos que existem na realidade. Homero também é elogiado por Aristóteles como um POETA MAIOR, pela forma perfeita e pela linguagem esmerada (ornada, musical) que imprimiu às suas epopéias (8.816 versos decassílabos), fontes de inspiração às epopéias de Virgílio, Camões, etc. Aristóteles salienta, ainda, que tragédia e epopéia se diferenciam pelo modo (na tragédia as personagens agem por si, não há ninguém narrando, o espectador entende a estória a partir do drama; na epopéia alguém conta a história, sabe tudo o que vai acontecer com as personagens: o narrador; em suma: modo dramático e modo narrativo), pela extensão (epopéia=poema longo/tragédia=poema curto) e pelo objeto (tragédia=homens melhores/epopéia=homens iguais aos que existem na realidade) da imitação. Atualmente, comédia e tragédia são modalidades dramáticas elaboradas em prosa.

Surgida na Idade Média e criada por Gil Vicente, outra modalidade dramática em versos heptassílabos (ou redondilhas maiores) é o AUTO, cujo conteúdo consiste numa crítica aos poderosos, principalmente aos clérigos(do padre ao Papa). A versão cômica do Auto é a FARSA. Essa modalidade ainda existe; em nossa Literatura atual temos “Morte e Vida Severina” ou “Auto de Natal Pernambucano”, de João Cabral de Melo Neto, e as peças de Ariano Suassuna, dentre elas o “Auto da Compadecida”.
Noções de Versificação > Esdrúxula, Datílica ou Proparoxítona

Quando as palavras rimadas são proparoxítonas.
"No ar lento fumam gomas aromáticas"
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas."
(Eugênio de Castro)
"Sobre as ondas argênteas do Adriático
Passa à noite o gondoleiro, e canta
E dobra a fonte, lânguido, cismático."
(Raimundo Correia)

COMBINAÇÕES DE RIMAS;
Nas estrofes, as disposições mais freqüentes de rimas são as seguintes:
a) emparelhadas ou paralelas
b) alternadas, cruzadas ou entrelaçadas
c) opostas, interpoladas ou intercaladas
d) encadeadas
e) coroadas
RIMAS EMPARELHADAS OU PARALELAS
AA – BB – CC...
"Ele deixava atrás tanta recordação!........A
E o pensar, a saudade até no próprio cão,.......A
Debaixo de seus pés, parece que gemia,..........B
Levanta-se o sol, vinha rompendo o dia, .........B
E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor......C
Vestiam-se de luz com um peito de amor"........C
(A de Oliveira)
RIMAS ALTERNADAS, CRUZADAS ou ENTRELAÇADAS:
AB AB AB AB...
Quando de um lado, rimam os versos ímpares(o 1º com o 3º, etc); de outro, os versos pares (o 2º com o 4º, etc)
"Tu és beijo materno! A
Tu és um riso infantil, B
Sol entre as nuvens de inverno, A
rosa entre as flores de abril B
RIMAS OPOSTAS OU INTERPOLADAS OU INTERCALADAS: ABBA ABBA
Quando o 1º verso rima com o 4º, e o 2º com o 3º
"Saudade! Olhar de minha mãe rezando A
E o prato lento deslizando em fio B
Saudade! Amor de minha terra... o rio B
Cantigas de águas claras soluçando" A
(Da Costa e Silva)
RIMAS ENCADEADAS;
Quando rima a final de um verso com o interior de verso seguinte, conforme o esquema abaixo:
------------------------A
-------------A-----------------C
------------------------------B
-------------B-----------------C
Exemplo:
"Quando alta noite n'amplidão flutua
Pálida a lua com fatal palor,
Não sabes, virgem, que eu te suspiro
E que deliro a suspirar de amor."
(Castro Alves)
RIMAS COROADAS
Quando rimam palavras dentro de um mesmo verso, conforme o esquema abaixo:
A-A------------------------ BB
C-C------------------------------D
E-E----------------------------FF
G-G-----------------------------D
Exemplo:
"Donzela bela, que me inspira lira
Um canto santo de fervente amor
Ao bardo cardo de tremenda senda
Estanca, arranca - lhe a terrível dor
(Castro Alves)
RIMAS ALITERANTES
Sucessão de fonemas consonantais idênticos ou semelhantes no início das palavras de um ou mais versos.
"Vozes, veladas, veludosas, vozes
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
(Cruz e Souza)
RIMAS MISTURADAS
São as rimas que não obedecem a esquema determinado.
"É meia-noite ...e rugindo
Passa triste a ventania.
Com um verbo da desgraça
Como um grito de agonia
REGRAS PARA SEPARAÇÃO DAS SÍLABAS MÉTRICAS
1)Conta-se apenas até a última sílaba tônica:
Que cantem ao ver a Auro/ra
Teu pensamento é com o sol que mor/re
2)Sempre que duas vogais de palavras diferentes se encontram no verso, três coisas podem acontecer:
a) Ambas são átonas, nesse caso, ficam na mesma sílaba.
b) Ambas são tônicas, nesse caso, ficam em sílabas diferentes.
c) Uma é átona e outra é tônica, nesse caso, podem ficar na mesma sílaba ou não, de acordo com as circunstâncias.


Noções de Versificação > Estrofação
Estrofe é um agrupamento rítmico formado de dois ou mais versos, que, em geral, se combinam pela rima
OS PRINCIPAIS TIPOS DE ESTROFES
1) O dístico dois versos
2) O terceto três versos
3) A quadra quatro versos
4) A quintilha cinco versos
5) A sextilha seis versos
6) Sete versos sete versos
7) A oitava oito versos
8) Nove versos nove versos
9) A décima dez versos
CLASSIFICAÇÃO DOS VERSOS QUANTO AO NÚMERO DE SÍLABAS
Os versos classificam -se em:
1 sílaba monossílabo
2 sílabas dissílabo
3 sílabas trissílabo
4 sílabas tetrassílabo
5 sílabas pentassílabo
6 sílabas hexassílabo
7 sílabas heptassílabo
8 sílabas octassílabo
9 sílabas eneassílabo
10 sílabas decassílabo
11 sílabas hendacassílabo
12 sílabas dodecassílabo
NOTA; Para alguns versos há denominações especiais.
5 (cinco) sílabas - redondilha menor
7 (sete) sílabas - redondilha maior
10 (dez) sílabas - heróico ou sáfirico, conforme o ritmo.
12 (doze) sílabas - alexandrino
OBSERVAÇÃO:
Até sete sílabas não há pausa em rimas obrigatórias: o acento tônico pode cair em qualquer das sílabas.

VERSO DE UM SÍLABA
"Va-gas
pla-gas
fra-gas
sol-tam
can-tos
co-brem
mon-tes
fon-tes
tí-bios
man-tos"
(Fagundes Varela)
VERSOS DE DUAS SÍLABAS
"Tu, on-tem
na dan-ça
que can-sa
voa-vas
com as fa-ces
em ro-sas
formo-sas
de vi-vo
carmim //
(Casimiro de Abreu)
"VERSO DE "TRÊS SÍLABAS
"Vem a auro-ra
presuro-sa
cor de ro-sa
que se co-ra
de carmim//
as estre-las
que eram be-las
tem desmai-os
já por fim//"
(Gonçalves Dias)
VERSO DE QUATRO SÍLABAS
"O inverno bra-da
forçando as por-tas
Oh! Que revoa-da
de folhas mor-tas
o vento espa-lha
por sobre o chão/..."
(Alphonsus de Guimarães)
VERSO DE "CINCO'' SÍLABAS
(ou redondilha menor)
"Meu canto de mor/te,
Gerreiros ouvi/
Sou filho das sel/vas
Nas selvas cresci/;
Gerreiros descen/do
Da tribo tupi/
(Gonçalves Dias)
VERSO DE SEIS SÍLABAS
Admite vários metros; pode ser acentuado na Segunda, na terceira, na quarta, só na sexta.
Exemplo:
"E o cavaleiro pas/as
ante a sombria por/ta
da linguagem desgra/ça"
(Alphonsus de Guimarães)
VERSO DE SETE SÍLABAS
"Antes de amar, eu dizi/a
para cortar na raiz/
esta constante agonia
preciso amar algun dia
amando, serei feliz."/
(Menotti del Picchia)
VERSO DE OITO SILABAS
O mais harmonioso, com pausa na 4ª sílaba. É freqüentissímo.
"No ar sossegado, um sino can/ta
Um sino canta no ar sombri/o
(Olavo Bilac)
"E o perfume da virgindade/de"
(Alfhonsus de Gruimarães)
"Tem do céu a serena cor/"
(Machado de Assis)
VERSOS DE NOVE SÍLABAS
Ó guerreiros da taba sagra/da,
Ó querrei/ros da tribo tupi/!
Falam deuses nos cantos de pia/ga!
Ó guerrreiros, meus cantos ouvi!"//
(Gonçalves Dias)
RIMA
É uma coincidência de sons.
É a semelhança ou identidade entre os sons, no final de dois ou mais versos, ou ainda no interior do verso.
Exemplo:
Aquela triste a leda madrugada
Cheio toda de mágoa e de piedade
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada
(Camões)
Chama-se RIMA a igualdade ou semelhança de sons pertencentes ao fim dos vocábulos, a partir da sua última vogal tônica.
RIMA interna é a que se faz com o último vocábulo de um VERSO e um vocábulo no INTERIOR do verso seguinte.
"Era na estiva quadra! Intenso meio DIA
PEDIA um respirar
No meio do meu PEITO
Me DEITO a descansar
Janela entreaberta, esquiva ao sol jogOSO.
RepOUSO ali manténs;
Luz como a de espessURA
EscuURA ao quarto vem."
A rima pode ser perfeita ou imperfeita.
Diz-se RIMA PERFEITA quando é completa a identidade dos sons finais.
Exemplo:
"És engraçada e formosa
Como a rosa
Como a rosa em mês de abril;

És como a nuvem doirada
Deslizada
Deslizada em céus d'anil" (G.Dias)
Diz-se RIMA IMPERFEITA aquela em que a identidade de sons finais não é completa. Ocorre a rima incompleta quando
a) Se rima uma vogal de timbre aberto com outra de timbre fechado.
"Bailando no ar, gemia inquieto vagalume
Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como eterna Vela!
Mas a estrela, fitando à luz, com ciúme. "
(M. de Assis)
Um dos finais tem um som que outro não tem.
"Nessa vertígem
Amara a virgem"
O de rima de vogal oral com vogal nasal:
"De que ele, o sol inunda
O mar, quando se põe
Imagem moribunda
De um coração que foi..."(J. de Deus)
"Existem quatrocentas mil mulheres a mais"
da penha ao Posto Seis
São mais de dez mulheres para cada rapaz:
Só eu não tenho vez..."
RIMA QUANTO AO VOCÁBULO
Pode ser: rica, pobre, rara ou preciosa.
RIMAS RICAS:
Quando as palavras que rimam pertencem a classe gramaticais diferentes
"O teu olhar, Senhora, é a estrela da ALVA
Que entre alfombras de nuvens irraDIA
Salmo de amor, canto de alívio, e SALVA
De palmas a saudar a luz do DIA"
(Alphonsus de Guimarães)
RIMAS RARAS OU PRECIOSAS
As rimas excepcionais, difíceis de encontrar ou com vocábulos pouco usados.
E, a rir, levamos entre ditirambos,
Eu, no açafate, as provisões do lanche,
Ela, um beijo a trinar nos lábios flambos!
(Helenos, de B. Lopes)
"Penso que, no negror da meia em que surgis
Deveis ser, pela alvura ebúrnea e macilenta,
Dois lírios cor de neve em dois vasos de ônix."
(A Feijó)
RIMA POBRE:
Quando se verifica entre os vocábulos pertencentes à mesma classe gramatical.
"Que noite fria! Na deserta rua.
Tremem de medo os lampiões sombrios
Densa garoa faz fumar a lua
Ladram de tédio vinte cães vadios."
(Castro Alves)
"Não, Pepita, não ta dou... A
Fiz mal en dar-te em flor, B
que eu sei o que me custou A
Tratá-la com tanto amor."(Garrett) B
RIMA QUANTO À ACENTUAÇÃO: AGUDA OU MASCULINA
Quando as palavras que rimam são oxítonas ou monossílabas tônicas
"Agora que a noite estende
Alvo lençol de luar
E a bafagem que recende
Nos jardins perfuma o ar."
(Raimundo Correia)
"Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar
Que no céu os anjos regam com luar."
(Guerra Junqueira)
GRAVE OU FEMININA
Quando as palavras que rimam são paroxítonas.
"Calçou as sandálias, tocou-se de flores.
Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores."
(Antônio Nobre)
"A ardência em vão te aplaca ao lábio lindo.
Esse angélico sopro e hábil ameno:
- Vento outonal de longes campos vindo
cheios de fresco, de oloroso feno ..."

Friday, June 23, 2006

Metodologia I

I - O Papel da Ciência

1 - Ciência e Senso Comum
Ana Mercês Bahia Bock
Senso Comum: o conhecimento da realidade.

As pessoas normalmente têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado através de dados científicos, o que lhes permite resolver, explicar ou compreender seus problemas cotidianos.

A vida do cotidiano pode ser entendida como a “Vida por Excelência”. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos e todos os acontecimentos assim o denunciam.

É no cotidiano que sentimos a realidade através do Senso Comum.

Por exemplo: Agora estou lendo um livro, logo mais vou à escola; enquanto isso. Tenho sede e tomo um refrigerante; sinto um sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em plena aula, etc.
Já a Ciência é uma atividade eminentemente reflexiva.

Ela busca Compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, estudando-o sistematicamente.

Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-se e se afastam dela:

A Ciência aproxima-se do cotidiano porque ela se refere ao real.


A Ciência afasta-se do cotidiano porque ela abstrai a realidade para compreendê-la melhor.


A Ciência afasta-se da realidade transformando a realidade em objeto de investigação o que permite a construção científica sobre o real.





Exemplo:
- Pense na abstração (no distanciamento e no trabalho mental) que Newton teve que fazer para, partindo da fruta que cia da arvore (fato cotidiano), formular a lei da gravidade (fato científico).

Mesmo o cientista mais especializado, ao sair de seu laboratório, está submetido à dinâmica do cotidiano que cria suas próprias “teorias” a partir de teorias científicas. Seja como forma de “simplificá-las” para o uso no dia-a-dia, ou como sua maneira peculiar de interpretar os fatos a despeito das considerações feitas pela ciência.

Todos nós vivemos a maior parte do tempo esse cotidiano e suas “teorias”.

Por exemplo:
- A dona de casa, quando usa uma garrafa térmica para manter quente o café, sabe por quanto
tempo ele ficará aquecido sem fazer cálculo algum e sem conhecer as leis da termodinâmica.

- Quando, em uma roda de amigos, reclamamos de problemas com o fígado quase sempre
alguém nos “receita” um chá de boldo (planta medicinal usada há algumas gerações) sem
saber de suas propriedades farmacológicas.

- E nós mesmos, quando precisamos atravessar uma movimentada rua, sabemos medir a
distância e a velocidade dos automóveis que vêm em nossa direção sem precisar usar
fórmulas ou máquina de calcular.

SENSO COMUM: Conhecimento acumulado com o qual aprendemos facilitar o dia-a-dia e que tem
suas próprias “teorias”.
O Senso Comum mistura, recicla e simplifica os saberes científicos produzindo no indivíduo uma interpretação do cotidiano: uma visão-de-mundo.
Dessa forma, integra, de modo precário (e esse é o seu modo) o conhecimento humano. Por exemplo:

- Quando utilizamos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, “vou ficar neurótico”, na maioria das vezes não se sabe o que, cientificamente, tais termos querem dizer. Esses são exemplos de apropriação que o Senso comum faz da Ciência.

Outros exemplos podem ser considerados e com eles podemos perceber que o Senso Comum se apropria não somente das teorias da Ciência, mas também de outras áreas do conhecimento humano.
Portanto, áreas como Filosofia, Religião, Arte, etc. podem ter seus conceitos e teorias abstraídas pelo Senso Comum para a aplicação no cotidiano.


2 - O Pensamento Complexo.

Mudanças desordenadas
Globalização Riscos Realidade Complexa
Incertezas



Para compreender essa Realidade Complexa: Pensamento Complexo (Teoria da Complexidade)


Teoria da Complexidade: Desenvolvida por Edgar Morin, possibilita o conhecimento da complexidade
através de sua discussão.

Para entender o pensamento complexo é necessário entender o ato de pensar.


- É uma atividade cognitiva inerente ao ser humano.
Pensar: - É a ação mental de elaborar representações mentais, de organizá-las e reorganiza-las
transformando-as em novas representações mentais.


A Representação Mental da realidade percebida não é uma cópia da realidade como tal,

Os seres humanos selecionam aspectos dessa realidade quando formam uma representação mental e criam sua própria imagem de realidade


Componentes do sistema de Representação Mental:

- Seletividade do que é percebido
- Formação de diferentes sentidos em relação à representação mental de uma dada realidade
- Diferentes formas de sua organização em nossa mente


Esses componentes sofrem influências de vários fatores, são eles: o paradigma; O contexto e nossos esquemas pessoais; valores individuais; objetivos e intenções.

Paradigma:

- Kuhun (1994) – é uma estrutura imaginária, um modelo de pensamento, próprio de cada época da história e produzido pela experiência de mundo, pela linguagem própria da época e imposto a todos os domínios do pensamento.

- Morin (1990) – São princípios supralógicos de organização de pensamento;

o estes princípios são constituídos pelos pressupostos filosóficos acerca da realidade.
o Esses princípios são ocultos; governam nossas ações, nossa visão de mundo e das coisas; sem que tenhamos consciência.




Isto é,
são as crenças, conhecimentos e valores que conduzem nosso pensamento;
sem nos darmos conta de tal condução.

Essas crenças valores e conhecimentos são produzidos e transmitidos em cada período da história.
Em outras palavras, o que conhecemos do mundo e da realidade, a forma como interpretamos essas informações está baseada no “Paradigma” da época em que vivemos.




Cada momento histórico produz uma determinada
Representação social
(visão geral de mundo, orientação dos discursos, da ideologia, das crenças e dos pensamentos).



Esses são os componentes do Paradigma.



Segundo Morin (1990), o Paradigma de uma certa época também influencia o modo de se fazer e pensar ciência que é predominante.

O Paradigma da Era Moderna:

O paradigma cartesiano e a concepção de ciência desenvolvida por Newton foram primordiais na era industrial moderna.
O mundo, neste paradigma, é considerado como um grande sistema mecânico, acabado e previsível; independentemente do homem. A missão da ciência era descobrir o funcionamento desse sistema, medi-lo e domina-lo.

Portanto, é um paradigma cuja forma de pensar é linear (causa-efeito), estática e simplista; desconsiderando aspectos que não podem ser observados, ordenados ou mensurados.
Cada “Ciência” no seu lugar e, com seu respectivo “Especialista”.


De certa forma, esse paradigma perdurou desde a Revolução Industrial até o final do século XX.

Hoje, a realidade não concebe mais esse paradigma, esse raciocínio linear, essa ordenação e as simples explicações dos fenômenos.

Nossa realidade é composta de conflitos, mudanças velozes, bens descartáveis, instabilidades e incertezas. Aspectos que devemos levar considerar em um processo decisório.

O contexto e nossos esquemas pessoais:
- Pelo nosso ambiente físico
O contexto em que nos encontramos no momento é constituído - Pelo nosso ambiente sócio-cultural
- Pelo nosso ambiente intelectual

O contexto em que o indivíduo se encontra somada à sua subjetividade são os parâmetros pelos quais ele percebe e interpreta a realidade à sua volta.


Os objetivos e as intenções:

Constituem o 3º componente do sistema de representação mental. Este componente colabora com a construção do pensamento e do modo de subjetivação do indivíduo, ajudando-o a elaborar suas percepções acerca da realidade.

O Pensamento Simples:

Quando fazemos a opção pela busca de idéias claras e objetivas não considerando, na nossa reflexão, aquelas situações ou fatores que não temos condições de compreender naquele momento, como as contradições e as incertezas, estamos usando o Pensamento Simples ou Pensamento Linear.
Este tipo de pensamento é enganoso uma vez que ele falsifica a realidade, pois, ao eliminar alguns dos seus elementos, deturpa a própria realidade, levando-os a conclusões e a decisões errôneas e inadequadas àquela situação.

Ex: O Homem é um ser bio-psico-social. Quando dizemos:

- que a personalidade do individuo é fruto do meio em que vive (redução ao social); ou
- que a liderança é uma característica hereditária (redução ao biológico); ou
- que a inteligência é uma característica da pessoa mentalmente saudável (redução ao psicológico).



Paradigma da simplicidade

Morin (1990): foi a vontade de simplificação que levou a ciência a ordenar e revelar a simplicidade por trás da multiplicidade e da aparente desordem dos fenômenos.
Era a busca da perfeição e da eternidade em detrimento daquilo que aparentemente não tinha uma explicação lógica.
Portanto, com o passar do tempo, o Pensamento Simples não conseguia superar as dificuldades para a explicação dos fenômenos.


Ex: Os seres humanos reproduzem novos seres, mas envelhecem, degradam-se e Morrem.

Estão presentes aí tanto a ordem e o desenvolvimento, quanto a
desordem e a degradação.


O Conflito, a Incerteza, a Contradição, o Imponderável e o Indeterminado são os elementos que devem fazer parte da praxis da Complexidade que incluem a concepção e a percepção da realidade.

- A dicotomia ordem/desordem não é verdadeira
Conclusão: - A ordem e a desordem cooperam entre si; a ordem é precedida pela desordem.
- A aceitação da Complexidade é a aceitação da contradição impossível de ser
ultrapassada







Portanto, A Complexidade (Complexus) pode ser entendida como um tecido de elementos
diferentes da natureza que estão inseparavelmente associados.

É o conjunto de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações,
acasos,que constituem o campo fenomenal.




Usamos o termo PENSAMENTO COMPLEXO para explicitar esse conjunto de idéias.

Resumindo os opostos:

simples complexo
Pensamento Linear redução Pensamento Complexo conjunção
reducionista holismo
segmentado integral (Todo)



Observação: O Pensamento Complexo não funde os opostos em um todo homogêneo; ele mantém a
distinção entre as partes, porém mantendo a identidade das mesmas, mas inclusas no todo.
O todo é maior que a soma das partes.

A complexidade do mundo transparece nas expressões:

Mundo das artes
Mundo da política Mas, só existe um mundo. Todos os outros se entrelaçam no mesmo espaço- Mundo da ciência tempo em que vivemos.
Mundo acadêmico, etc...

TRANSDISCIPLINARIDADE

Nicolescu (Físico) é sua alma articuladora. Desde o Colóquio de Veneza em 1986 tem desenvolvido uma longa reflexão e uma ação criadora que culminou no Centro de Estudos Transdisciplinares (CIRET).

O Colóquio de Veneza foi uma reunião; patrocinada pela UNESCO entre representantes de 16 países nas áreas das Ciências, Artes, Tradições, Religiões e outras do Conhecimento Humano; onde foi discutido o futuro da Ciência e do Conhecimento.
Através de seu manifesto (a Carta de Veneza) foi proposta uma mudança de paradigma no pensamento científico através do Pensamento Complexo e da Transdisciplinaridade.

Definições:

Disciplina corpo específico de conhecimento “ensinável”, com seus próprios antecedentes de educação, treinamento, procedimentos, métodos e áreas de conteúdo.


Multidisciplinaridade ocorre, segundo Piaget (1950), quando a resolução de um problema torna necessário obter informação de duas ou mais áreas do conhecimento, sem que essas áreas não sofram modificações ou enriquecimento. Ex: construção de uma casa (cálculo matemático, hidráulica, elétrica, etc.)


Interdisciplinaridade ainda segundo Piaget, o termo deve ser reservado para designar o nível de interação entre várias disciplinas de uma mesma ciência, reciprocidade, intercâmbio e enriquecimento mútuo das mesmas.Ex: cirurgia (anestesia, radiologia, cirurgião, cardiologista, etc.


Transdisciplinaridade continuando com Piaget (1970), não há somente interações ou reciprocidade entre elas, mas a colocação dessas relações dentro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre as disciplinas. Há a interpenetração entre elas.
Piaget considerou esses conceitos há quase três décadas, mas considerava isso um sonho. Hoje se tornou realidade.







TRANSDISCIPLINARIDADE: “O Pensamento Complexo e a
Transdisciplinaridade
complementam-se.”
É difícil separar o
Pensamento Complexo
e a Transdisciplinaridade.
A Complexidade é mais
abrangente que ela. Como indica o prefixo, lida com

o que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das disciplinas e além de todas elas; sua finalidade é a
compreensão do mundo atual.
A Complexidade é a expressão para
tratar o Mundo Real tal como ele é, indivisível.
Tudo está ligado a tudo.
A Transdisciplinaridade está para
o Mundo Acadêmico, assim como,
o Pensamento Complexo está para
o Mundo Real.









Texto 01
COMPLEXIDADE E PENSAMENTO COMPLEXO
(Texto Introdutório) Humberto Mariotti
Nenhum homem é uma ilha; qualquer homem é uma parte do todo. A morte de qualquer homem me diminui, porque faço parte da humanidade; assim, nunca procures saber por quem dobram os sinos: eles dobram por ti. — JOHN DONNE (1572-1631)
O que é complexidade
1* A complexidade não é um conceito teórico e sim um fato da vida. Corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. Os sistemas complexos estão dentro de nós e a recíproca é verdadeira. É preciso, pois, tanto quanto possível entendê-los para melhor conviver com eles.
2. Não importa o quanto tentemos, não conseguimos reduzir essa multidimensionalidade a explicações simplistas, regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fechados de idéias. A complexidade só pode ser entendida por um sistema de pensamento aberto, abrangente e flexível — o pensamento complexo. Este configura uma nova visão de mundo, que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas.
3. Lembremos uma frase de Jean Piaget: "Os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus meios". A experiência humana é um todo bio-psico-social, que não pode ser dividido em partes nem reduzido a nenhuma delas. Primeiro percebemos o mundo. Em seguida, as percepções geram sentimentos e emoções. Na seqüência, estes são elaborados em forma de pensamentos, que vão determinar o nosso comportamento no cotidiano.
4. O modo como nos tornamos propensos (pela educação e pela cultura) a pensar é que vai determinar as práticas no dia-a-dia, tanto no plano individual quanto no social. Do ponto de vista bio-psico-social, o principal problema para a implantação do desenvolvimento sustentado (e, portanto o desenvolvimento da cidadania) é a predominância, em nossa cultura, do modelo mental linear (ou lógica aristotélica, ou lógica do terceiro excluído).
5. Por esse modelo, A só pode ser igual a A. Tudo o que não se ajustar a essa dinâmica fica excluído. É a lógica do "ou/ou", que deixa de lado o "e/e", isto é, exclui a complementaridade e a diversidade. Desde os Gregos que esse modelo mental vem servindo de base para os nossos sistemas educacionais.
6. Essa lógica levou à idéia de que se B vem depois de A com alguma freqüência, B é sempre o efeito e A é sempre a causa (causalidade simples). Na prática, essa posição gerou a crença (errônea) de que entre causas e efeitos existe sempre uma contigüidade ou uma proximidade muito estreita. Essa concepção é responsável pelo imediatismo, que dificulta e muitas vezes impede a compreensão de fenômenos complexos, como os de natureza bio-psico-social.
7. O modelo mental cartesiano é indispensável para resolver os problemas humanos mecânicos (abordáveis pelas ciências ditas exatas e pela tecnologia). Mas é insuficiente para resolver problemas humanos em que participam emoções e sentimentos (a dimensão psico-social). Um exemplo: o raciocínio linear aumenta a produtividade industrial por meio da automação, mas não consegue resolver o problema do desemprego e da exclusão social por ela gerados, porque se trata de questões não-lineares. O mundo financeiro é apenas mecânico, mas o universo da economia é mecânico e humano.
8. Desde os primeiros dias de escola (e de vida, dentro da cultura), nosso cérebro começa a ser profundamente formatado pelo modelo linear. Para ele, o predomínio de um determinado pensamento, com exclusão de quaisquer outros é "lógico" e perfeitamente "natural". Essa é a base das ideologias em geral e do autoritarismo em particular. Desse modo, fenômenos como a exclusão social são também vistos como "lógicos", "naturais" e "inevitáveis".

9* O modelo mental linear-cartesiano forma a base do empirismo, que diz que existe uma única realidade, que deve ser percebida da mesma forma por todos os homens. Hoje, porém, sabe-se que não existe percepção totalmente objetiva (ver abaixo, no item 11, a posição de Humberto Maturana).
10. Por isso, nos últimos anos esse modelo de pensamento tem sido questionado de muitas formas, inclusive pelo pensamento complexo. Este permite entender os processos autopoiéticos (autoprodutores, auto-sustentados, autogestionários), dos quais a sociedade humana constitui um exemplo.
11. O pensamento complexo baseia-se na obra de vários autores, cujos trabalhos vêm tendo ampla aplicação em biologia, sociologia, antropologia social e desenvolvimento sustentado. Uma de suas principais linhas é a biologia da cognição, de Maturana, que sustenta que a realidade é percebida por um dado indivíduo segundo a estrutura (a configuração bio-psico-social) de seu organismo num dado momento. Essa estrutura muda constantemente de acordo com a interação do organismo com o meio.
12. A diversidade de visões não impede (pelo contrário, pede) que cheguemos a acordos (consensos sociais) sobre o mundo em que vivemos. Esses consensos é que vão determinar as práticas sociais. Para que possamos chegar a consensos que levem em conta o respeito à diversidade de pontos de vista é necessário observar alguns parâmetros básicos:
· O que chamamos de racional é o resultado de nossas percepções. No início, elas surgem como sentimentos e emoções. Só depois é que se transformam em pensamentos, que geram discursos, que por fim são formalizados como conceitos.
· O racional vem do emocional, não o contrário. Isso não quer dizer que devamos deixar de ser racionais. Significa apenas que precisamos aprender a harmonizar razão e emoção, pensamento mecânico e pensamento sistêmico. Essa é a proposta básica do modelo complexo.
· Uma cultura é uma rede de conversações que define um modo de viver. Toda cultura é definida pelos discursos que nela predominam. Estes se originam nas conversações, que começam entre indivíduos, estendem-se às comunidades e por fim a todo o âmbito cultural.
· Os consensos sociais (que determinam, por exemplo, o que é permitido e o que não é, o que é real e o que é imaginário numa determinada cultura) resultam desses discursos, que por sua vez são oriundos das redes de conversação.
· Cresce-se numa cultura vivendo nela como um indivíduo participante da rede de conversações que a define. Crescer numa cultura significa, então, adquirir e desenvolver a cidadania.
· Uma cultura que não desenvolve a cidadania de seus membros não cresce, permanece subdesenvolvida. Logo, não pode sequer começar a pensar em desenvolvimento sustentado.
· Como vimos há pouco, todo sistema racional começa no emocional: o que pensamos vem do que sentimos. É por isso que nenhum argumento racional pode convencer as pessoas que já não estejam desde o início convencidas ou propensas a isso.
· Os argumentos racionais são úteis para iniciar conversações. Mas se eles insistem em permanecer lineares (ou seja, excludentes, apegados ao "ou/ou"), isso significa que querem manter-se como os únicos "verdadeiros", isto é, que não respeitam a diversidade. E esta, como sabemos, é a base da cidadania.
13. Dessa maneira,
· Não se pode desenvolver uma compreensão satisfatória da cidadania e de desenvolvimento sustentado com base apenas no pensamento linear.
· Por outro lado, o pensamento sistêmico, quando isolado, é também insuficiente para as mesmas finalidades.
· Há, portanto, necessidade de uma complementaridade entre ambos os modelos mentais. O pensamento linear não se sustenta sem o sistêmico, e vice-versa. O desenvolvimento sustentado precisa de um modelo de pensamento que lhe dê base e estrutura. Este é o pensamento complexo.
· Como os processos de pensamento hegemônicos em nossa cultura estão unidimensionalizados pelo modelo linear, só um esforço educacional que comece na infância terá possibilidades de reverter de modo significativo esse quadro. Isso implica pelo menos o prazo de uma geração.
· No caso dos adolescentes e adultos de hoje, é possível alcançar mudanças substanciais nessa área, desde que eles sejam educacionais e culturalmente sensibilizados.
· Para isso, é fundamental a atuação das entidades do terceiro setor (entidades comunitárias), porque por meio delas é possível questionar a rigidez institucional e o modelo mental linear que, em geral, caracteriza as estruturas governamentais.
Pensamentos lineares, sistêmicos e complexos.
1. Em primeiro lugar, lembremos o exemplo de Joseph O’Connor e Ian McDermott. A Terra é plana? É claro que sim: basta olhar o chão que pisamos. No entanto, como mostram as fotografias dos satélites e as viagens intercontinentais, ela é obviamente redonda. Concluímos então que do ponto de vista do pensamento linear, de causalidade simples e imediata, a Terra é plana. Uma abordagem mais ampla, porém, mostra que ela é redonda e faz parte de um sistema.
2. Precisamos dessas duas noções para as práticas do cotidiano. Mas elas não são suficientes, o que nos leva a ampliar o exemplo desses autores e dizer que:
a) do ponto de vista do pensamento linear a Terra é plana; b) pela perspectiva do pensamento sistêmico ela é redonda; c) por fim, do ângulo do pensamento complexo — que engloba os dois anteriores — ela é ao mesmo tempo plana e redonda.
3. Recapitulemos:
· O pensamento simples ou linear, ou ainda, linear-cartesiano é a tradução atual da lógica de Aristóteles. *Trata-se de uma abordagem, necessária (e indispensável) para as práticas da vida mecânica, mas que não é suficiente nos casos que envolvem sentimentos e emoções. Ou seja, não é capaz de entender e lidar com a totalidade da vida humana.
· O pensamento sistêmico é um instrumento valioso para a compreensão da complexidade do mundo natural. Porém, quando aplicado de modo mecânico, como simples ferramenta (como se vem fazendo nos dias atuais, principalmente nos EUA, no mundo das empresas), proporciona resultados meramente operacionais, que não são suficientes para compreender e abranger a totalidade do cotidiano das pessoas.
· Por outras palavras, o pensamento sistêmico pode proporcionar bons resultados no sentido mecânico-produtivista do termo, mas certamente não é o bastante para lidar com a complexidade dos sistemas naturais, em especial o humano.
· É indispensável ter sempre em mente que, em que pese a sua grande importância, ele é apenas um dos operadores cognitivos do pensamento complexo. Por isso, quando utilizado, como tem sido, separado da idéia de complexidade, diminuem a sua eficácia e potencialidades.
· *O pensamento complexo resulta da complementaridade (do abraço, como diz Edgar Morin) das visões de mundo linear e sistêmica. Essa abrangência possibilita a elaboração de saberes e práticas que permitem buscar novas formas de entender a complexidade dos sistemas naturais e lidar com ela, o que evidentemente inclui o ser humano e suas culturas. As conseqüências práticas dessa visão bem mais ampla são óbvias.
Alguns princípios do pensamento complexo
· Tudo está ligado a tudo.
· O mundo natural é constituído de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares.
· Toda ação implica um feedback.
· Todo feedback resulta em novas ações.
· Vivemos em círculos sistêmicos e dinâmicos de feedback, e não em linhas estáticas de causa-efeito imediato.
· Por isso, temos responsabilidade em tudo o que influenciamos.
· O feedback pode surgir bem longe da ação inicial, em termos de tempo e espaço.
· Todo sistema reage segundo a sua estrutura.
· A estrutura de um sistema muda continuamente, mas não a sua organização.
· Os resultados nem sempre são proporcionais aos esforços iniciais.
· Os sistemas funcionam melhor por meio de suas ligações mais frágeis.
· Uma parte só pode ser definida como tal em relação a um todo.
· Nunca se pode fazer uma coisa isolada.
· Não há fenômenos de causa única no mundo natural.
· As propriedades emergentes de um sistema não são redutíveis aos seus componentes.
· É impossível pensar num sistema sem pensar em seu contexto (seu ambiente).
· Os sistemas não podem ser reduzidos ao meio ambiente e vice-versa.

Alguns benefícios do pensamento complexo
· Facilita a percepção de que a maioria das situações segue determinados padrões.
· Facilita a percepção de que é possível diagnosticar esses padrões (ou arquétipos sistêmicos, ou modelos estruturais) e assim intervir para modificá-los (no plano individual, no trabalho e em outras circunstâncias).
· Facilita o desenvolvimento de melhores estratégias de pensamento.
· Permite não apenas entender melhor e mais rapidamente as situações, mas também ter a possibilidade de mudar a forma de pensar que levou a elas.
· Permite aperfeiçoar a comunicações e as relações interpessoais.
· Permite perceber e entender as situações com mais clareza, extensão e profundidade.
· Por isso, aumenta a capacidade de tomar decisões de grande amplitude e longo prazo.
O que se aprende por meio do pensamento complexo
· Que pequenas ações podem levar a grandes resultados (efeito borboleta).
· Que nem sempre aprendemos pela experiência.
· Que só podemos nos autoconhecer com a ajuda dos outros.
· Que soluções imediatistas podem provocar problemas ainda maiores do que aqueles que estamos tentando resolver.
· Que não existem fenômenos de causa única.
· Que toda ação produz efeitos colaterais.
· Que soluções óbvias em geral causam mais mal do que bem.
· Que é possível (e necessário) pensar em termos de conexões, e não de eventos isolados.
· Que os princípios do pensamento sistêmico podem ser aplicados a qualquer sistema.
· Que os melhores resultados vêm da conversação e do respeito à diversidade de opiniões, não do dogmatismo e da unidimensionalidade.
· Que o imediatismo e a inflexibilidade são os primeiros passos para o subdesenvolvimento, seja ele pessoal, grupal ou cultural.
[Este texto faz parte do livro de Humberto Mariotti As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade (São Paulo, Editora Palas Athena, 2000)].
Questionário

1) Como pode ser entendida a Complexidade?
2) Segundo o Pensamento Linear, como deve ser entendida a realidade?
3) Como o Pensamento Complexo entende a realidade?
4) Resumidamente, quais são os benefícios do Pensamento Complexo?
5) Porque o Pensamento Cartesiano não consegue entender a atual realidade?









Texto 02 - COMPLEXIDADE E LIBERDADE (Edgar Morin)
A complexidade nos convoca para uma verdadeira reforma do pensamento, semelhante à produzida no passado pelo paradigma copernicano. Mas essa nova abordagem e compreensão do mundo, de um mundo que se "autoproduz", confere também um novo sentido à ação: trata-se de fazer nossas apostas, o que vale dizer que com a complexidade ganhamos a liberdade.
A grande descoberta do século é que a ciência não é o reino da certeza. Ela se baseia, seguramente, numa série de certezas local e espacialmente situadas. A rotação da Terra em torno do sol, por exemplo, nos parece certa; mas seria possível dizer isso, tanto 100 milhões de anos antes de nossa era quanto depois, sabendo-se que o Universo está submetido a flutuações e perturbações, às quais hoje chamamos de movimento caótico? A ciência é de fato um domínio de múltiplas certezas, e não o da certeza absoluta no plano teórico. A obra de Popper se tornou indispensável para a compreensão de que uma teoria científica não existe como tal, a não ser que, na medida em que aceita ser falível, submete-se ao jogo da "falsificabilidade" e, portanto, aceita sua biodegradabilidade.
Ordem, separabilidade e lógica: os pilares da ciência clássica.
A ciência clássica se apóia nos três pilares da certeza, que são a ordem, a separabilidade e a lógica. Para ela, esses eram os fundamentos absolutos.
A ordem do Universo, tal como entendida por Descartes e Newton, era o produto da perfeição divina. Com Laplace, a hipótese de Deus é descartada: a ordem funciona sozinha, é "autoconsolidada". A idéia de determinismo absoluto tornou-se objeto de uma crença quase religiosa entre os cientistas, que por isso se esqueceram de que ela não pode, de modo algum, ser demonstrada.
A segunda idéia-chave era a separabilidade. Conhecer é separar. Em face de um problema complicado, dizia Descartes, é preciso dividi-lo em pequenos fragmentos e trabalhá-los um após o outro. Assim, as disciplinas científicas são desenvolvidas a partir da divisão do interior das grandes ciências, a física, a biologia etc. o que dá origem a compartimentos sempre novos. No limite, pode-se dizer que a separação entre ciência e filosofia e, mais amplamente, entre ciência e cultura humanista — filosofia, literatura, poesia etc. —, está instituída em nosso século como uma necessidade legítima.Nas ciências, a separação entre o observador e sua observação, ou seja, entre nós, humanos, que consideramos os fenômenos, e estes (os objetos de conhecimento), tinham valor de certeza absoluta. O conhecimento científico, objetivo, implicava a eliminação do indivíduo e da subjetividade. Se existisse um sujeito, ele causaria perturbação — seria um ruído.
Terceiro pilar: a lógica, a indução. Com base em um número importante e variado de observações, podia-se tirar delas leis gerais. Quanto à dedução, era um meio implacável de conduzir à verdade. Os princípios aristotélicos da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído, permitiam eliminar toda confusão, equívoco e contradição.
A lógica, a separabilidade e a ordem levaram para a ciência clássica essa certeza absoluta, na qual ela se baseia. E os resultados têm sido tão brilhantes que acabaram, paradoxalmente, colocando em xeque os princípios fundamentadores da separação. Foi a ordem, isto é, o determinismo (tudo o que escapa ao acaso, às perturbações e à imprevisão), que entrou primeiro em crise. Com efeito, a termodinâmica introduziu a desordem molecular no fenômeno chamado calor. Sabemos hoje que nosso Universo tem uma origem calorífica, surgiu de um fenômeno térmico inicial, uma espécie de explosão seguida de enorme agitação.
A presença da desordem universal se revela em todos os níveis: microscópico, cosmofísico e também histórico humano. Em relação a este, lembramos que a história não se reduz a processos determinísticos: é também feita de bifurcações, acasos, crises, daquilo que Shakespeare chamou de "o som e a fúria". Isso não quer dizer, no entanto, que a desordem tomou o lugar da ordem. Um Universo assim seria tão insensato e impossível como aquele em que reinasse a ordem pura.
No reinado da ordem pura não há criação, não há possibilidade de nada novo. Se só existisse a desordem, agitação, a álea, o Universo seria simplesmente inviável. É preciso, portanto, que desde o começo um certo número de princípios, considerados como de ordem, provoquem, sob certas condições, alguns encontros nessa agitação de partículas. O princípio de interação forte ligará e formará núcleos; o princípio de interação eletromagnética impelirá os elétrons, para que eles se coloquem em volta do núcleo e formem os átomos; enfim, o princípio gravitacional atua no plano da formação dos astros, das galáxias...
Em outros termos, estamos diante deste paradoxo: as noções de ordem e desordem se repelem mutuamente. O Universo é um coquetel de ambas, uma mistura muito diferente segundo os casos, as condições, os lugares, os momentos... De acordo com o ângulo de observação, um dado fenômeno pode ao mesmo tempo se inclinar para um lado ou para o outro. Os átomos de carbono, por exemplo, são formados nos sóis anteriores ao nosso, pela reunião instantânea de três núcleos de hélio. No interior dessas fantásticas forjas que são os astros, as interações são inumeráveis e o encontro, no mesmo momento, de três núcleos de hélio, é tão raro quanto aleatório. Entretanto, uma vez ocorrido, uma lei entra em jogo: a do carbono que vai ser produzido.
É no encontro da ordem e da desordem que se produz à organização. Quando os três núcleos de hélio se reúnem, nasce uma delas, a do átomo de carbono. Essas organizações criam, no seu próprio interior, uma ordem que lhes é própria. O mundo dos seres vivos obedece a todas as leis da física e da química; sua ordem é baseada na autoprodução, na regeneração etc.
Quanto á separabilidade, percebeu-se que ela leva à divisão das partes constituintes dos conjuntos organizados em sistemas, o que proporciona um conhecimento insuficiente, mutilado. Pode-se extrair um corpo de seu meio natural, colocá-lo num contexto experimental, controlado pelas variações que sobre ele atuam. Não é possível conhecer, numa única avaliação, a relação profunda que existe entre o corpo e seu ambiente. Os seres vivos não são nada sem o seu meio. As experiências realizadas em cativeiro, para investigar a inteligência de seres sociais como os chimpanzés, não nos têm permitido saber o que eles aprenderam depois delas. Com efeito, no curso de observações pacientes desses animais, em seu meio natural e em suas sociedades, pôde-se constatar que os indivíduos são diferenciados e que existem relações muito complexas entre eles. O chimpanzé adulto, por exemplo, não pratica o incesto.
A separabilidade perdeu seu valor absoluto. Uma das peculiaridades de um conjunto organizado em sistema decorre do fato de que, ao existir, essa organização produz qualidades novas, chamadas "emergências". Estas retroagem sobre o todo, e não podem ser identificadas quando se tomam os elementos isoladamente. Desse modo, a organização viva gera um certo número de qualidades, como autoprodução, autonutrição e auto-reparação. Tais qualidades não se encontram nas partes, mas as beneficiam. Da mesma forma, uma sociedade produz emergências culturais, como a linguagem, que retroage sobre os indivíduos e lhes permite, por sua aquisição (que é também conhecimento), tornarem-se plenamente humanos.
Consumou-se hoje, nas ciências, uma segunda transformação. A primeira aconteceu na física, no começo deste século, e destronou a ordem. A outra começou na segunda metade do século, com as ciências ditas sistêmicas, que lidam com os sistemas ecológicos espontâneos, que nascem das interações entre as plantas, os animais, o terreno geofísico, o clima.
Todas essas interações produzem um conjunto mais ou menos auto-regulado, submetido a perturbações. Dessa maneira, a partir dos anos 80, a ecologia começou a levar em conta, além dos ecossistemas, o sistema ainda mais complexo e mais ou menos regulado que é a biosfera. Isso permitiu acrescentar os seres humanos e sua civilização técnica, e prever com alguma certeza os riscos possíveis da desregulação.
A partir da descoberta da tectônica das placas, nos anos 60, as ciências da Terra (sismologia, vulcanologia, geologia), que não se comunicavam entre si, hoje são articuladas umas às outras. Essa circunstância tem permitido compreender o planeta como um conjunto articulado e complexo. O ecologista, por exemplo, não conhece todos os dados da zoologia, botânica, física, geografia; tem um conhecimento parcial de cada uma, "um pouco de tudo", como dizia Pascal. No entanto, ao apelar para as competências dessas diferentes especialidades, ele dá um sentido a seus conhecimentos e os articula entre si. Infelizmente, a sociologia não fez essa revolução. A biologia também não.
A cosmofísica, na realidade, tornou-se inseparável da cosmologia, que é um ensaio de compreensão do mundo. A revolução da ressurreição do cosmos (durante um século, o espaço-tempo — uma espécie de infinito — havia tomado o seu lugar) começou logo que se constatou o afastamento das galáxias. Num determinado momento, supunha-se que elas eram muito próximas umas das outras e que havia existido um núcleo inicial. Hoje sabemos que o cosmos tem uma história e que ela sofreu transformações. O cosmólogo foi levado a refletir sobre o mundo, sua origem, seu propósito ou sentido, se é que existe um. Ele retoma assim a relação filosófica, reinventa uma filosofia em estado selvagem. Com efeito, por falta de interesse dos filósofos, os cientistas são obrigados a refletir sobre o sentido de suas descobertas.
A questão: "O que é o real?", que parecia tão evidente, reapareceu. O que é o Universo onde — para seguir d'Espagnat — as coisas obviamente separadas são, num certo nível, inseparáveis, a partir do momento em que interagem? Trata-se de falar de inseparabilidade na separabilidade. O grande desafio do conhecimento repousa sobre esse paradoxo: para uma mesma realidade, depara-se ao mesmo tempo com o contínuo e com o descontínuo. As célebres experiências sobre a onda e o corpúsculo, relativas à natureza da partícula, mostraram que ela se comporta tanto como ondulação quanto como grânulo. Ou seja: ora de modo contínuo, ora de forma descontínua — o que é contraditório do ponto de vista lógico. Reencontramos os mesmos problemas no que se refere à sociedade: se a consideramos de modo global, trata-se de um continuum. Os indivíduos nela se dissolvem, como ainda imaginam numerosos sociólogos. Ou então, pode-se considerar que tanto os indivíduos quando a sociedade se dilui, o que permite a certos autores dizer que esta não existe, e que só contam as interações entre as pessoas. No caso da espécie e do indivíduo é a mesma coisa: não existem senão indivíduos. Contudo, quando se leva em conta um longo espaço de tempo, eles se dissolvem e surge a noção contínua de espécie.
Eis o paradoxo do separável e do inseparável. Pascal não só já o havia colocado, mas tinha também indicado o caminho a seguir para avançar no conhecimento. Que dizia ele? Que "sendo todas as coisas ajudadas e ajudantes, causadas e causadoras, estando tudo unido por uma ligação natural e insensível, acho impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, e impossível conhecer o todo sem conhecer cada uma das partes". Nessa frase, de uma densidade e clareza extraordinárias, ele formula — no mesmo momento em que Descartes, triunfante, introduz o princípio da separação absoluta — o programa do conhecimento contemporâneo, que ainda não se conseguiu pôr em prática.
No que concerne à lógica, o umbral foi transposto no momento em que certos teóricos, ou pensadores, mostraram os limites da indução. Segundo o célebre exemplo de Popper, a regra geral que diz que "todos os cisnes são brancos" já não é una, porque não se pode pressupor que não existam, em algum lugar, cisnes negros. A indução não é certeza absoluta; significa, em muitos casos, a existência de fortes possibilidades, de quase-certezas.
Essa "derrapagem", que ocorre também na dedução, foi assinalada pelos gregos. É o "paradoxo de Creta", segundo o qual todos os cretenses são mentirosos. Se um deles disser a verdade será, portanto, um mentiroso, porque todos os demais o são.
Esse paradoxo foi retomado por Russell, que tentou superá-lo. Ele nos conduz ao teorema de Gödel, cujo sentido é múltiplo, desde que queiramos investigá-lo além de seus limites matemáticos. É um problema de lógica fundamental, que nos ensina que nenhum sistema tem a capacidade de dar a si próprio a prova de sua consistência, atribuir-se uma certeza suficiente a partir de suas próprias fontes. Conseqüência metológica: nenhum ser humano pode se autoconhecer por completo. O mesmo acontece com a Humanidade. Eis uma abertura reveladora da inconclusibilidade do conhecimento — e da lógica.
A partir daí, a ciência clássica se defrontou com a contradição e começou a temer o erro. Niels Bohr teve a coragem de afrontar a aporia da onda e do corpúsculo sem poder ultrapassá-la, o que significa reconhecer que se trata de dois termos contraditórios e complementares. Admite-se hoje que é possível chegar, por meios racionais e empíricos, a essas contradições. De resto, Kant já havia mostrado que no horizonte da razão havia um certo número de impasses fundamentais.
Pode-se enfrentar esse problema não sonhando entrar numa nova lógica, que nos permita integrar as contradições, mas mostrando que é possível promover um incessante jogo de circularidade entre nossa lógica tradicional e as transgressões necessárias ao progresso de uma racionalidade aberta. Esse propósito pode ser ilustrado tomando o aforismo de Heráclito: "Viver de morte, morrer de vida". Eis uma proposição extravagante. No entanto, sabemos hoje que os seres vivos — nosso organismo, por exemplo — ao funcionar degradam sua energia, isto é, as moléculas de suas células. Estas morrem e são substituídas por outras. Dizendo de outra forma, nossa vida continua graças à morte celular, porque o organismo é dotado de um poder de regeneração contínua. Cada batimento do coração, cada movimento respiratório, é uma obra de regeneração. O oxigênio é um detoxificante.

Do mesmo modo, uma sociedade vive da morte de seus indivíduos. Faz isso passando às novas gerações a cultura que começa a se decompor nos cérebros mais senis. É como viver da morte. Essa contradição lógica fundamental pode ser explicada, etapa por etapa, de modo segmentar, sem sair do caminho lógico (as células têm a capacidade de se reproduzir). Entretanto, para compreender esse fenômeno básico necessitamos do paradoxo (que vale também para os ecossistemas) chamado circularidade trófica, que ilustra a recursividade da vida: o ciclo vital, que é também de morte. São duas faces da mesma realidade. Morrer de vida: esse é o nosso processo de rejuvenescimento contínuo. É "mortificante" remoçar, eis a trágica lição da vida.
Estas formulações nos permitem unir o que o pensamento clássico não conseguiu. Continua sendo verdade que o maior inimigo da vida é a morte, e que o maior desafio ao fenômeno da decomposição é o renascimento da vida. O pensamento deve ser capaz de confrontar os antagonismos, poder enxergar as aporias, sem que para tanto precise renegar o valor da lógica, a dedução ou a indução.
O pensamento complexo
Desses três desafios — a relação entre a ordem, a desordem e a organização; a questão da separabilidade ou a distinção entre separabilidade e não-separação; e o problema da lógica — podem ser tiradas as três vertentes do pensamento complexo.
Discutir sem dividir: a palavra complexus retira daí seu primeiro sentido, ou seja, "o que é tecido junto". Pensar a complexidade é respeitar a tessitura comum, o complexo que ela forma para além de suas partes.
A segunda linha fundamental é a imprevisibilidade. Um pensamento complexo deve ser capaz de não apenas religar, mas de adotar uma postura em relação à incerteza. As ciências físicas, que descobriram a incerteza, encontraram estratégias para lidar com ela, utilizando a estatística, por exemplo. A eletrônica permite alcançar resultados de grande precisão, em termos de conhecimento desse mundo flutuante. O pensamento capaz de lidar com a incerteza existe no domínio das ciências, mas não nos âmbitos social, econômico, psicológico e histórico.
O terceiro ponto é a oposição da racionalização fechada à racionalidade aberta. A primeira pensa que é a razão que está a serviço da lógica, enquanto a segunda imagina o inverso. Racionalizar significa acreditar que, se um determinado sistema é coerente, é, portanto perfeito e por isso não precisa ser verificado. Vivemos sob o império de idéias racionalizadoras, que não conseguem se dar conta do que acontece e privilegiam os sistemas fechados, coerentes e consistentes. A ciência econômica contemporânea — formalizada e matemática — é um magnífico exemplo de racionalização. É inteiramente fechada não consegue perceber as paixões, a vida, a carne dos seres humanos. Por isso, é incapaz de fazer previsões quando surgem eventos inesperados. Mais ainda que no século de Moliére, os Disfoirus triunfam.
O desafio é hoje generalizado. Falar da incerteza é falar do caos. Emprego esse termo em seu sentido original, e não no derivado das teorias sobre o tema. Trata-se, como no pensamento grego, da idéia de que o cosmos, ou universo ordenado, nasce do caos, isto é, que forças genésicas extremamente violentas, comportando potencialmente a ordem e a desordem indiferenciadas, podem se exprimir num determinado momento. Os gregos pensavam que a origem do organizado, ou racional, é a loucura. É o que sustenta Platão, quando diz que diké, a justiça, é filha de hubris, o delírio. O caos é um pouco daquilo que corresponde à palavra physis, isto é, o mundo no qual estamos e do qual as coisas nascem. Está continuamente presente sob o cosmos, ou — pouco importa — no interior dele. O Universo é caos. Isso quer dizer que forças de desordem, ordem e organização brotam continuamente do seu seio, o que dá origem à constituição de novas estrelas, a colisões de galáxias e, em nossa Terra, ao conflito de impulsos de barbárie e associação.
De acordo com a teoria do caos, processos deterministas por natureza conduzem, com grande rapidez, a estados imprevisíveis e aparentemente desordenados. Por quê? Porque as interações são incontroláveis e o conhecimento total e absoluto dos estados iniciais não nos é permitido. É uma maneira de dizer que, mesmo na ocorrência de um determinismo inicial, há imprevisibilidade e desordem aparentes. O que compreendeu Henri Atlan, o termodinâmico de origem austríaca, quando disse que a vida existe à temperatura de sua própria destruição? Segundo o seu belo livro Entre le Cristal et la Fumée [Entre o Cristal e a Fumaça], é preciso entender que não somos nem fumaça nem cristal. Não somos seres fluidos nem sólidos. Somos híbridos que vivem à temperatura de sua combustão e destruição.
No desafio da complexidade, certos filósofos podem nos ajudar: Heráclito, com o enfrentamento das contradições; Sócrates com a dialética, cujo jogo de oposições faz progredir o conhecimento; Nicolás de Cusa, no plano místico; João da Cruz; Jacob Boehme; Pascal, em cuja obra não se reconheceu o papel central que desempenham as contradições; Hegel, evidentemente; Nietzsche, até certo ponto.
A emergência dos sistemas
Entretanto, para que adquiríssemos os meios intelectuais e conceituais necessários à entrada no universo da complexidade, foi preciso esperar pelos anos 50, quando surgiram três teorias novas. A primeira foi a cibernética de Norbert Wiener, que é ao mesmo tempo engenheiro e pensador. A ele devemos a idéia de retroação e circularidade, que estava latente desde a obra de Marx, na qual a superestrutura retroage sobre a infra-estrutura. Essa idéia de ciclos retroativos, que quebram a causalidade linear, mostra que os fatos podem, eles próprios, tornar-se causadores, ao retroagir sobre a causa, como Pascal já havia assinalado.
Essa recursividade tem dois aspectos: um, regulador, que impede que os desvios destruam os sistemas; e outro potencialmente destruidor, chamado de feedback positivo, que os fazem explodir.
Nos anos 60, outro pensador, o nipo-americano Magoroh Maruyama, fez a seguinte proposição: não se pode ter criação, a não ser por meio dos feedbacks positivos. Em outros termos, quando um sistema de desregula, há um desvio que se amplifica. Nesse caso, o sistema — sobretudo se é complexo (social ou humano) — em vez de se desgovernar pode transformar-se. A criação não é possível senão pela desregulação.
O segundo aporte conceitual é a teoria dos sistemas, que propõe que o todo é maior que a soma de suas partes, mas também que é menor que ela; assim, a totalidade pode oprimir as partes e impedir que estas dêem o melhor de si mesmas. Isso tem conseqüências político-sociais indiretas. Um grande império não é melhor porque é um todo: sua bancarrota pode ser salutar, ao liberar as potencialidades das partes dominadas.
A idéia capital aqui é a de emergência. As qualidades que aparecem podem ser induzidas, mas não podem, em contrapartida, ser deduzidas logicamente. As emergências estão em qualquer espécie de flor. A evolução biológica levou, num determinado momento, a uma verdadeira explosão floral — mas persiste a questão de saber por que as flores têm necessidade de mostrar o seu sexo, de serem exibicionistas!
O terceiro aporte é a teoria da informação, de Shannon e Weaver. É um instrumento capaz de lidar com a incerteza, com o inesperado. Extrai-se do mundo do ruído algo de novo e muitas vezes surpreendente. A noção de informação, ao mesmo tempo física e semântica, nos introduz num mundo onde o novo pode aparecer, ser reconhecido, assinalado... Captamos o novo nessa relação permanente de ordem e redundância, na integração do conhecido e na ordem do ruído.
Essas três teorias formam uma espécie de "rés-do-chão". No primeiro estágio, pode-se colocar a contribuição de Von Foerster e Von Neumann. Este, refletindo sobre a diferença entre as máquinas artificiais — as que produzimos a partir de elementos fabricados e confiáveis — e as máquinas naturais, cujos elementos são pouco confiáveis (essas moléculas que se degradam por um nada!), perguntou-se: por que as primeiras, logo que começam a funcionar, iniciam seus processos de usura e degradação, enquanto que as segundas — os seres vivos — podem progredir, evoluir? A resposta é que os viventes têm o poder da auto-reparação, da auto-reforma.
A segunda idéia, de Von Foerster, é a "ordem a partir do ruído". Seu jogo experimental era o seguinte: tomava de uma caixa, dentro da qual colocava cubos com determinados lados imantados. Em seguida provocava agitação, isto é, introduzia na caixa uma energia não-direcional e, portanto, a desordem. Apesar disso, a presença de um princípio de ordem — os ímãs — permitia que os cubos chegassem a uma arquitetura bem organizada. Eis o fenômeno da auto-organização.


O segundo estágio é o que se poderia chamar de auto-eco-organização. Um ser vivo precisa nutrir-se para regenerar sua energia. Para ser autônomo, tem necessidade do meio ambiente, de onde retira não energia bruta, mas já organizada. Do mesmo modo, temos gravada em nossa organização uma ordem cósmica, a alternância do dia e da noite. Essa ordem (por uma espécie de mecanismo cíclico, que pode se tornar independente da luz e da obscuridade, como mostraram experiências em cavernas sem luz) nos permite alternar a vigília e o sono...
Tudo isso para dizer que a separação entre o conhecedor e o conhecido não pode ser alcançada. Sabe-se, depois de Kant, que para conhecer o mundo projetamos nele nossas categorias, nossos a priori espaciais e temporais.
Por uma convivência solidária
Essa circunstância pode ser ainda confirmada pelo funcionamento do cérebro humano: isolado no interior de uma caixa fechada, ele, todavia se comunica com o Universo pela mediação de terminais sensoriais. Os estímulos visuais, por exemplo, são transformados num código binário, que tecido cerebral retrabalha e transforma em percepção ou representação. O conhecimento não é senão uma tradução, uma reconstrução. Não conhecemos a essência das coisas exteriores. Sabemos das coisas objetivas, que podemos confirmar, mas não há conhecimento sem integração do conhecido. Essa circunstância vale também para os fenômenos sociais e humanos. O sociólogo e o economista são parte da sociedade, e a totalidade desta — ou seja, a cultura, a linguagem — está também neles. Num estágio superior, vejo a necessidade de uma reforma paradigmática dos conceitos dominantes e de suas relações lógicas, que controlam, inconsciente e incorrigivelmente, todo o nosso conhecimento. O paradigma sob o qual vivemos é o da disjunção e da redução: e ele nos torna cegos, nesta era de globalidade e mundialização.
Não podemos produzir por decreto a reforma necessária, porque ela está inscrita no próprio curso da história; pensemos na passagem do paradigma ptolomaico ao copernicano. Tal reforma consiste em passar para um paradigma de religação, conjunção, implicação mútua e distinção. Ela pressupõe uma mudança no ensino, que por sua vez implica uma transformação do pensamento. É um círculo vicioso, do qual precisamos sair um dia... Um conhecimento pertinente é aquele que é capaz de contextualizar, isto é, religar, globalizar. A ação adquire um novo sentido: fazer as apostas. Pascal — novamente ele — apostava em Deus. Nós apostamos em valores que não podem ser fundamentados. Assim como o mundo, a ética se autoproduz.
Conhecer é também uma estratégia, que pode se modificar em relação ao programa inicial, que é flexível e leva em conta o que chamo de ecologia da ação. Sabe-se hoje que uma ação, lançada ao mundo, entra num turbilhão de interações e retroações, que podem se voltar contra a intenção inicial.
Por fim, uma última idéia: o sentimento de uma comunidade de destino profundo, que liga as idéias de solidariedade e fraternidade. O laço entre complexidade e solidariedade não é mecânico. Uma sociedade muito complexa proporciona muitas liberdades de jogo a seus indivíduos e grupos. Permite-lhes ser criativos, algumas vezes delinqüentes. A complexidade tem, assim, seus riscos. Ao atingir o extremo da complexidade a sociedade se desintegra. Para impedi-lo, pode-se recorrer a medidas autoritárias; entretanto, supondo que desejemos o mínimo possível de coerção, o único cimento que nos resta é a solidariedade vivida.
EDGAR MORIN é diretor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, e presidente da Association pour la Pensée Complexe, também sediada em Paris.
Questionário:

Baseado nos textos que você leu e nas aulas assistidas, responda:

1) O que nos diz a teoria do caos?
2) Quais as teorias que surgem para contribuir com o Pensamento Complexo
3) Como a Desordem colabora com a Ordem?
4) Porque o Pensamento Linear não é adequado para acompanhar a Globalização?
5) Defina Complexidade.

Semântica Linguística Estrutural - Linguagem e Persuasão

1 INTRODUÇÃO

Persuadir não é sinônimo imediato de coerção ou mentira. Pode se apenas a representação do desejo de se prescrever a adoção de alguns comportamentos, cujos resultados finais apresentam saldos socialmente positivos.

Para existir persuasão é necessário que certas condições se façam presentes: a mais óbvia é a livre circulação de idéias

O discurso persuasivo tende a nos fazer chorar, a estimular as nossas lágrimas, como pode acontecer com uma fotonovela.


2 A TRADIÇÃO RETÓRICA

Para Aristóteles a retórica tem algo de ciência, é um corpus com determinado objeto e um método verificativo dos passos seguidos para se produzir a persuasão.

Caberia à retórica não assumir uma atitude ética, dado que seu objetivo não é o de saber se algo é ou não verdadeiro, mas sim analítica. Cabe a ela verificar quais os mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar a dimensão de verdade.

2.1 Retórica e persuasão

A retórica não é persuasão, mas, pode revelar como se faz uma.

Os discursos institucionais são o lugar da persuasão.

A retórica é analítica e é uma espécie de código dos códigos, abarcando todas as formas discursivas.

2.2 Estrutura do texto

EXÓRDIO - É a Introdução, o começo do discurso, pode ser uma indicação do assunto, um conselho, um elogio, uma censura. Esta fase é importante pois visa a assegurar a fidelidade dos ouvintes;

NARRAÇÃO – É a Argumentação, o assunto, onde os fatos são arrolados, os eventos indicados;

PROVAS – Deve ser comprovado aquilo que se está dizendo se o discurso é persuasivo;

PERORAÇÃO – É o epílogo, a conclusão, é a última oportunidade para assegurar a fidelidade do receptor e se compõe em 4 partes:

- dispõe o receptor mal para com o adversário;

- Amplifica ou atenua o que se disse;

- Excita as paixões no ouvinte;

- Procede a uma recapitulação.

2.3 Verdade e verossimilhança

Persuadir antes de mais nada, é sinônimo de submeter, daí sua vertente autoritária. Quem persuade leva o outro a aceitação de uma idéia.

Verossímil é aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica, daí a necessidade para se construir o “efeito de verdade” da existência de argumentação, provas, peroração e exórdios.

Persuadir não é apenas sinônimo de enganar, mas também o resultado de certa organização do discurso que o constitui como verdadeiro para o receptor.

2.4 Alguns raciocínios

RACIOCÍNIO APODÍTICO – possuía o tom da verdade inquestionável. A argumentação é realizada com tal grau de fechamento que não resta ao receptor qualquer dúvida quanto a verdade do emissor.

RACIOCÍNIO IMPLÍCITO – o caráter imperativo do verbo torna indiscutível o enunciado. O receptor fica impedido de esboçar qualquer questionamento.

RACIOCÍNIO DIALÉTICO – busca quebrar a inflexibilidade do raciocínio apodítico. É um jogo de sutilezas que consiste em fazer parecer ao receptor existir uma abertura no interior do discurso

2.5 Algumas figuras

As figuras de retórica são importantes recursos para prender a atenção do receptor naqueles argumentos articulados pelo discurso.

Entre as figuras mais usadas estão a metáfora e a metonímia.

METÁFORA – é uma figura que caracteriza por denominar representações para as quais não se encontra um designativo mais adequado. Alguns processos são próprios da metáfora: Transferência ou Transposição e Associação.

METONÍMIA – utilização de um termo em lugar de outro, desde que entre eles haja uma relação de contigüidade. Ela nasce, ao contrário da metáfora, de uma relação objetiva entre o plano de base e o plano simbólico do termo.


3. SIGNO E PERSUASÃO

É da inter-relação dos signos que se produz a frase, o período e o texto.

Segundo Saussure, todo signo possui dupla face; o significado e o significante.

SIGNIFICANTE – é o aspecto concreto do signo, é a sua realidade material, ou imagem acústica constituído por um conjunto sonoro, fônico, que torna o signo auditível ou legível.

SIGNIFICANTE – é o aspecto imaterial, conceitual do signo e que nos remete a determinada representação mental evocada pelo significante.

Significante (Ste) + Significado (Sdo) = Significação (Sção).

A significação é portanto, uma espécie de produto final da relação existente entre o significado e o significante.

3.1 Arbitrariedade

O signo é sempre arbitrário, não tendo relação direta entre o Significante e o Significado.

O signo é representativo, simbólico, coisas não se confundem com palavras. As palavras não são as coisas que designam.

A arbitrariedade seria uma espécie de segundo momento, precedida pela necessidade. O homem precisa nomear e o faz arbitrariamente, criando o símbolo a que chamamos de signo ou palavra.

O modo de articulá-lo, organizá-lo, poderá determinar as direções que o discurso irá tomar, inclusive de seu maior ou menor grau de persuasão.

3.2 Signo e ideologia

A relação entre signo e ideologia ocorre através de um produto ideológico que faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo. Ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo.

Há uma série de exemplos de produtos de consumo que perderam seu sentido inicial para se transformarem em signos, passando a funcionar como veículos de transmissão de ideologias.

Até onde existe um produto de consumo e onde começa o signo é de fácil percepção. Numa palavra estamos diante da passagem do plano denotativo para o plano conotativo.

O signo nasce e se desenvolve em contato com as organizações sociais.

3.3 A troca de nomes

A alteração lexical não é apenas parte de um natural processo sinonímico, mas o desejo de dourar uma pílula cujo desgaste se tornou evidente.

Uma das preocupações do discurso persuasivo é o de provocar reações emocionais no receptor.



4 DISCURSO PERSUASIVO

DISCURSO DOMINANTE – Ele se dota de signos marcados pela superposição. São signos que colocados como expressões de “uma verdade”, querem fazer-se passar por sinônimos de “toda a verdade”.

Os discursos que enunciamos em nosso cotidiano individual, conquanto possam estar dotados de recursos composicionais, estilísticos e até muito originais.

DISCURSO AUTORIZADO – (Discurso Competente), como é sabido, vivemos em uma sociedade que premia as competências, são condenados aqueles que estão “do lado” da incompetência porque não conseguem subir na vida ou são instáveis emocionalmente.

4.1 Modalidades discursivas

Mede-se o sujeito por aquilo que produzirá, quer o nível material.

O discurso autoritário e persuasivamente desejoso de aplainar as diferenças.

Existe três grandes modos organizacionais do discurso: o polêmico, o lúdico e o autoritário.

4.2 O discurso lúdico

Residiria aqui um menor grau de persuasão, tendendo, em alguns casos, ao quase desaparecimento do imperativo e da verdade única e acabada. Lúdico significa jogo, seria, pois, um tipo discursivo marcado pelo jogo de interlocuções.

Há menos verdade de um, logo, menos desejo de convencer, neste caso o signo ganha uma dimensão múltipla, plural, de forte polissemia: os sentidos se estilhaçam, expondo as riquezas de novos sentidos.

O discurso lúdico compreenderia boa parte da produção artística, por exemplo, a música, a literatura. A própria descoberta da linguagem pela criança tem muito deste caráter de jogo com as palavras: prazer e encantamento com os mistérios dos sons.

4.3 O discurso polêmico

Cria um novo centramento na relação entre os interlocutores, aumentando o grau de persuasão.

Há uma luta, onde uma voz tenderá a derrotar a outra. Nesse caso, o grau de polissemia tende a baixar, dado existir o desejo do eu em dominar o referente. Possui um certo grau de instigação visto apresentar argumentos que podem ser contestados.

O discurso polêmico pode ser encontrado em situações muito variadas: uma discussão entre amigos, uma defesa de tese, um juízo sobre uma questão nacional, um editorial jornalístico ou uma aula.

4.4 O discurso autoritário

Essa é a transformação discursiva por excelência persuasiva. É aqui que se instalam todas as condições para o exercício de dominação pela palavra.

O receptor não pode modificar aquilo que está sendo dito. É um discurso exclusivista, que não permite mediações ou ponderações.

O discurso autoritário lembra um circunlóquio. É na forma discursiva que o poder mais escancara suas formas de dominação. O autoritário fixa-se num jogo parafrásico, ou seja, repete uma fala já sacramentada pela instituição: o mundo no diálogo perdeu a guerra para o mundo do monólogo.

A persuasão ganhou força de mito. Afinal a propaganda é ou não é a alma do negócio?

O discurso autoritário é encontrável, de forma mais ou menos mascarada, na família: o pai que manda, sob a máscara do conselho; na igreja: o padre que ameaça sob a guarda de Deus; no quartel: o grito que visa a preservar a ordem e a hierarquia; na comunicação de massa: o chamado publicitário que tem por objetivo racionalizar o consumo; há, ainda, longos etecéteras a serem percorridos.

4.5 Análise do Discurso

Deve ser considerada em função de quatro elementos: distância, modalização, tensão, transparência.

1- DISTÂNCIA (Atitude do sujeito falante face ao seu enunciado);

2- MODALIZAÇÃO (o modo como o sujeito constrói o enunciado);

3- TENSÃO (relação que se estabelece entre o emissor e o receptor);

4- TRANSPARÊNCIA (maior ou menor grau de transparência, ou opacidade, do enunciado). A mensagem é mais clara afirmada.


5 CONCLUSÃO

Concluímos este trabalho apresentando a persuasão que está contido em um texto publicitário: “Nove entre dez estrelas do cinema usam Lux”.

O SLOGAN - está formados de sete palavras gramaticais;

RACIOCÍNIO - é o mais formal possível. Trata-se de um silogismo (forma de raciocínio que passa de 3 fases: premissa maior, premissa menor e conclusão)

- Premissa maior: As mais belas mulheres (do cinema) usam Lux.

- Premissa menor: Você é (ou quer ser) uma bela mulher.

- Conclusão: Você deve usar Lux (assim será tão bela como as formosas atrizes.

O slogan se abre para duas realidades:

EXCLUSÃO – ninguém deseja ser socialmente excluído.

SÍMBOLO – O convite a beleza soa como uma obrigação


6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 15 ed. São Paulo: Ática, 2000.